80 anos de história. 80 anos dedicados à música e cultura. A Associação Recreativa e Musical Amigos da Branca está de parabéns! Nuno Silva, Presidente da ARMAB, falou-nos do aniversário da Associação e do percurso trilhado até aqui. Não deixa de mostrar que se orgulha desta caminhada e das raízes que foi construindo. As dificuldades sentidas, os projetos futuros e as comemorações deste ano também deram mote a esta entrevista.
Jornal de Albergaria: A ARMAB nasceu em 1940. Qual é a história desta Associação?
Nuno Silva: A ARMAB nasceu à sombra da Igreja, a 3 março de 1940. Os fundadores, todos infelizmente jádesaparecidos, a 17 do mesmo mês, subscreveram um comunicado dirigido àpopulação da freguesia, no qual davam conta da criação da nova associação e das suas finalidades. Até ao ano de 2000, a Banda fazia um trabalho religioso… o acompanhamento das celebrações, das procissões e alguns concertos nos arraiais das festas. Quase todas as bandas dessa altura nasceram dessa forma.
No final da década de 90/início de 2000, a Banda – impulsionada pela sua escola de música- começou a investir na formação dos músicos, que por sua vez evoluíram muito na sua qualidade. Houve um investimento grande na aprendizagem de música, o que foi muito benéfico para o desenvolvimento dos músicos e também deu um grande impulso à Associação.
Claro que também tivemos várias entidades que desde o início nos apoiaram. A construção do Centro Cultural da Branca, por exemplo, foi determinante para o nosso desenvolvimento porque nos conferiu condições ótimas. Coabitamos no espaço com o Conservatório de Música da Jobra, com o qual trabalhamos em articulação, e que nos dá uma dimensão diferente.
Atualmente continuamos a fazer as festas religiosas, mas não fazemos no mesmo nível porque a dimensão da banda já não o permite, quer do ponto de vista do custo financeiro, quer do ponto de vista da realização. Agora apostamos muito numa programação de concerto em auditório, onde fazemos música de todos os estilos e com composições mais recentes. Temos recebido muitos convites de compositores e editoras para podermos executar as suas obras. Também apostamos em concursos internacionais, representação nacional fora de portas. E por tudo isto acredito que hoje somos umas das bandas mais internacionais do país, mais reconhecidas.
J.A.: Que “grupos” fazem parte da estrutura da ARMAB?
N.S.: Temos duas estruturas principais: Banda Sinfónica e Academia. Neste momento temos a funcionar a Academia (que tem a orquestra juvenil), a Banda, o grupo de percussão e a classe de saxofones, que se apresenta muitas vezes sobre a designação de SAXa4. No âmbito da academia vão surgindo grupos que aparecem e desaparecem, o que é natural.
J.A.: Ao todo, quantas pessoas fazem parte desta grande “família”?
N.S.: A Banda tem um quadro de cerca de 85 músicos, a Academia tem cerca de 80 alunos. Se considerarmos os 16 professores e as restantes pessoas que colaboram andamos muito perto das 200 pessoas. Mas depois há muitos que nos acompanham, os encarregados de educação, familiares, amigos, sócios…
J.A.: A ARMAB atrai muita juventude…
N.S.: Sim, é verdade. Somos uma Associação muito jovem. Sou o músico mais antigo (com mais anos de banda) e o segundo mais velho. Penso que já lá vão 34 anos (risos).
J.A.: Há algum “segredo” para isso?
N.S.: Sim. O segredo é ter um projeto desafiante. A Banda cria projetos e obras desafiantes e as pessoas gostam de tocar connosco por isso. Algumas bandas tocam sempre a mesma coisa, mas nós não! Fazemos muitos programas com estilos diferentes. Também participamos em muitos concursos. Quase todos os anos vamos ao estrangeiro… essa dinâmica é o que cativa os mais jovens.
J.A.: A Banda da ARMAB é considerada o “exponente máximo” da Associação. A Banda tem vindo a ser orientada para novos conteúdos musicais e novos públicos, o que já a fez ser distinguida por diversas vezes. Qual é o caminho traçado para o futuro? O que está previsto?
N.S.: Em primeiro lugar gostava de esclarecer que a nossa Banda é Sinfónica. E porquê?! Tem a ver com o reportório que se toca. A banda pode ser grande ou pequena e ser sinfónica, desde que toque reportório sinfónico. Intitulamo-nos muitas vezes como banda filarmónica porque, infelizmente, a nossa cultura tradicional do país não permite que nós possamos utilizar a designação de banda sinfónica porque as pessoas acham que é uma coisa muito diferente. E não é nada! Eventualmente somos das bandas mais importantes, com mais recursos, com mais capacidades, mas não deixamos de ser uma banda como as outras que existem em Portugal, que são cerca de 1000.
Quanto à pergunta feita, ainda que sejamos uma banda de cariz amador, queremos tocar de forma mais profissional e queremos, cada vez mais, fazer coisas diferentes. Ter público é algo muito importante. E aqui há algo que nos marca. Cada vez que fazemos um concerto temos muito público. O nosso último espetáculo do Cineteatro Aba teve sala cheia…
“Temos orgulho em ser uma das bandas que tem mais visibilidade no nosso país e a nível internacional também.”
J.A.: 80 anos é uma data que já tem um certo peso. Que balanço é feito do percurso até aqui?
N.S: O balanço é muito positivo. Temos orgulho em ser uma das bandas que tem mais visibilidade no nosso país e a nível internacional também. Isso é bom. E sentir que o projeto tem sustentabilidade é outra coisa importante. Ao longo do tempo houve pessoas que acharam que o projeto não era sustentável a prazo e a verdade é que isto dura… não vai durar eternamente, nós sabemos que as associações têm altos e baixos, mas creio que a Associação tem hoje uma estrutura que lhe dá uma certa garantia. Um dos melhores exemplos é a juventude que temos. E sabemos que a Escola está a formar cada vez mais pessoas, está a tornar-se cada vez mais importante.
J.A.: Como vão ser as comemorações deste ano?
N.S: As comemorações dos 80 anos vão ter 3 momentos principais. O primeiro momento será em maio. Vamos celebrar os 80 anos com uma celebração eucarística, romagem ao cemitério e depois o habitual almoço de confraternização com todos os sócios e amigos. No início de julho vamos fazer a nossa gala dos 80 anos, em que vamos convidar muitos daqueles que passaram por cá ao longo destas 8 décadas e também apresentar aquilo que a Associação é hoje. Em setembro/outubro vamos ter uma conferência nacional dedicada às bandas filarmónicas e aquilo que são hoje as principais preocupações das Bandas.
J.A.: No seu entender, o que representa para a freguesia da Branca ter uma Associação com 80 anos? Qual é a importância disso?!
N.S.: A ARMAB é a mais antiga Associação da Branca. Para além disso, acho que as pessoas que vivem na Branca reconhecem na Associação uma importância grande porque sabem que é uma banda com uma grande dimensão e que leva o nome da Branca por aí fora.
Faz-nos falta ter uma ação mais social. Existem bandas, inclusive no nosso concelho, que têm um papel e importância social muito mais ativo que nós, mas isto é uma questão de opção. Nós escolhemos um caminho de maior qualidade artística e de menos participação social, embora tenhamos hoje claramente uma importância grande naquilo que é a atividade cultural da Branca.
J.A.: Há quantos anos faz parte da Direção da ARMAB? Quando chegou aqui como encontrou a Associação? O que foi alterado desde então?
N.S.: Estou na Direção desde 1998. Fui Vice-Presidente de 1998 a 2008 e sou Presidente de 2008 até ao presente. Entrei na ARMAB como músico. Naquela altura a ARMAB era uma banda relativamente pequena, que estava a ressurgir de um momento menos bom. No início da década de 70 houve uma fase difícil em que a banda quase parou de atividade. Depois retomou e eu apanhei-a um bocadinho à frente disto com a pessoa que conseguiu retomar a atividade: Gualdino Pereira Silva. Ele “pegou” na Associação e fê-la ressurgir. Quando entrei estava cá o Maestro José Lourenço da Costa, que estava a fazer um trabalho muito importante: o trabalho de formação de músicos. Sem nunca colocar de parte as romarias e festas religiosas, atualmente o nosso foco são os concertos em auditório.
J.A.: Além da responsabilidade acrescida, o que representa para si ser o Presidente da ARMAB?
N.S.: Além de um grande orgulho que tenho por liderar nesta altura este projeto, isto é uma parte extremamente importante da minha vida. Eu vivo muito a Associação. Dedico-lhe muitas horas. A minha mulher e os meus filhos também estão envolvidos, portanto há aqui uma envolvência muito grande.
Costumo dizer que eu não sou Presidente da ARMAB, eu estou Presidente da ARMAB. Isto é um cargo em que se está. Quem vier a seguir vai, se calhar, fazer um trabalho muito melhor do que o meu. Não tenho dúvidas que isso é possível. Faço o meu melhor e faço-o com gosto, mas de certeza que irá surgir alguém que faça o mesmo ou melhor. E nesta altura já estava na hora de aparecer alguém (risos).
J.A.: Neste aniversário, há alguém que gostasse de relembrar ou homenagear?
N.S: Ao longo da sua existência, a ARMAB foi dirigida e apoiada por muitas pessoas de relevo na vida local, dos quais éda maior justiça destacar António Pires Ladeira, 1º Presidente da Direção, António de Almeida Oliveira, que lhe sucedeu e Gualdino Pereira Martins da Silva, que assumiu a revitalização da Banda em 1976 e dirigiu a Associação, praticamente, atéao seu falecimento em 2004. Atualmente temos uma pessoa que é determinante, o maestro Paulo Martins. É uma das pessoas mais dinâmicas e mais importantes do país na direção. Ele é, não só, um excelente maestro como é diretor artístico de uma escola de maestros. É uma pessoa que trouxe uma visão nova.
Outra pessoa que também tem muita importância é Flausino Silva. Ele hoje tem responsabilidade num órgão consultivo, é Presidente do Conselho Geral. Ele vive a Associação de uma maneira muito intensa e dá uma ajuda muito preciosa naquilo que é o trabalho de mobilização de pessoas, por um lado, e mobilização de formas de financiamento, por outro. Sem ele seria quase impossível termos chegado ao ponto onde estamos. Eu diria que, mais do que pessoas individuais, temos um coletivo muito forte. Músicos, maestros… Ao longo do tempo passou por aqui muita gente e a Associação esteve sempre em crescimento e isso é o mais importante!