Associação Recreativa e Musical Amigos da Branca

0
623
Jornal de Albergaria
Jornal de Albergaria

80 anos de história. 80 anos dedicados à música e cultura. A Associação Recreativa e Musical Amigos da Branca está de parabéns! Nuno Silva, Presidente da ARMAB, falou-nos do aniversário da Associação e do percurso trilhado até aqui. Não deixa de mostrar que se orgulha desta caminhada e das raízes que foi construindo. As dificuldades sentidas, os projetos futuros e as comemorações deste ano também deram mote a esta entrevista.
Jornal de Albergaria: A ARMAB nasceu em 1940. Qual é a história desta Associação?
Nuno Silva: A ARMAB nasceu à som­bra da Igreja, a 3 março de 1940. Os fundadores, todos infelizmente jáde­saparecidos, a 17 do mesmo mês, subs­creveram um comunicado dirigido àpopulação da freguesia, no qual da­vam conta da criação da nova associa­ção e das suas finalidades. Até ao ano de 2000, a Banda fazia um trabalho re­ligioso… o acompanhamento das cele­brações, das procissões e alguns con­certos nos arraiais das festas. Quase todas as bandas dessa altura nasceram dessa forma.
No final da década de 90/início de 2000, a Banda – impulsionada pela sua escola de música- começou a inves­tir na formação dos músicos, que por sua vez evoluíram muito na sua qua­lidade. Houve um investimento gran­de na aprendizagem de música, o que foi muito benéfico para o desenvolvi­mento dos músicos e também deu um grande impulso à Associação.
Claro que também tivemos várias en­tidades que desde o início nos apoia­ram. A construção do Centro Cultural da Branca, por exemplo, foi determi­nante para o nosso desenvolvimento porque nos conferiu condições ótimas. Coabitamos no espaço com o Conser­vatório de Música da Jobra, com o qual trabalhamos em articulação, e que nos dá uma dimensão diferente.
Atualmente continuamos a fazer as festas religiosas, mas não fazemos no mesmo nível porque a dimensão da banda já não o permite, quer do ponto de vista do custo financeiro, quer do ponto de vista da realização. Agora apostamos muito numa programação de concerto em auditório, onde faze­mos música de todos os estilos e com composições mais recentes. Temos re­cebido muitos convites de composito­res e editoras para podermos executar as suas obras. Também apostamos em concursos internacionais, representa­ção nacional fora de portas. E por tudo isto acredito que hoje somos umas das bandas mais internacionais do país, mais reconhecidas.
J.A.: Que “grupos” fazem parte da estru­tura da ARMAB?
N.S.: Temos duas estruturas principais: Banda Sinfónica e Academia. Neste mo­mento temos a funcionar a Academia (que tem a orquestra juvenil), a Banda, o grupo de percussão e a classe de saxofo­nes, que se apresenta muitas vezes sobre a designação de SAXa4. No âmbito da academia vão surgindo grupos que apa­recem e desaparecem, o que é natural.
J.A.: Ao todo, quantas pessoas fazem parte desta grande “família”?
N.S.: A Banda tem um quadro de cerca de 85 músicos, a Academia tem cerca de 80 alunos. Se considerarmos os 16 professores e as restantes pessoas que colaboram andamos muito perto das 200 pessoas. Mas depois há muitos que nos acompanham, os encarregados de educação, familiares, amigos, sócios…
J.A.: A ARMAB atrai muita juventude…
N.S.: Sim, é verdade. Somos uma As­sociação muito jovem. Sou o músico mais antigo (com mais anos de banda) e o segundo mais velho. Penso que já lá vão 34 anos (risos).
J.A.: Há algum “segredo” para isso?
N.S.: Sim. O segredo é ter um proje­to desafiante. A Banda cria projetos e obras desafiantes e as pessoas gostam de tocar connosco por isso. Algumas ban­das tocam sempre a mesma coisa, mas nós não! Fazemos muitos programas com estilos diferentes. Também partici­pamos em muitos concursos. Quase to­dos os anos vamos ao estrangeiro… essa dinâmica é o que cativa os mais jovens.
J.A.: A Banda da ARMAB é considerada o “exponente máximo” da Associação. A Banda tem vindo a ser orientada para novos conteúdos musicais e novos públi­cos, o que já a fez ser distinguida por di­versas vezes. Qual é o caminho traçado para o futuro? O que está previsto?
N.S.: Em primeiro lugar gostava de es­clarecer que a nossa Banda é Sinfónica. E porquê?! Tem a ver com o reportório que se toca. A banda pode ser grande ou pequena e ser sinfónica, desde que toque reportório sinfónico. Intitulamo-nos muitas vezes como banda filarmónica porque, infelizmente, a nossa cultura tradicional do país não permite que nós possamos utilizar a designação de banda sinfónica porque as pessoas acham que é uma coisa muito diferente. E não é nada! Eventualmente somos das bandas mais importantes, com mais recursos, com mais capacidades, mas não deixamos de ser uma banda como as outras que exis­tem em Portugal, que são cerca de 1000.
Quanto à pergunta feita, ainda que seja­mos uma banda de cariz amador, que­remos tocar de forma mais profissional e queremos, cada vez mais, fazer coisas diferentes. Ter público é algo muito impor­tante. E aqui há algo que nos marca. Cada vez que fazemos um concerto temos muito público. O nosso último espetáculo do Cineteatro Aba teve sala cheia…

“Temos orgulho em ser uma das bandas que tem mais visibilidade no nosso país e a nível internacional também.”

J.A.: 80 anos é uma data que já tem um certo peso. Que balanço é feito do per­curso até aqui?
N.S: O balanço é muito positivo. Temos orgulho em ser uma das bandas que tem mais visibilidade no nosso país e a nível internacional também. Isso é bom. E sentir que o projeto tem sustentabilida­de é outra coisa importante. Ao longo do tempo houve pessoas que acharam que o projeto não era sustentável a prazo e a verdade é que isto dura… não vai durar eternamente, nós sabemos que as asso­ciações têm altos e baixos, mas creio que a Associação tem hoje uma estrutura que lhe dá uma certa garantia. Um dos me­lhores exemplos é a juventude que temos. E sabemos que a Escola está a formar cada vez mais pessoas, está a tornar-se cada vez mais importante.
J.A.: Como vão ser as comemorações deste ano?
N.S: As comemorações dos 80 anos vão ter 3 momentos principais. O primeiro momento será em maio. Vamos celebrar os 80 anos com uma celebração eucarís­tica, romagem ao cemitério e depois o habitual almoço de confraternização com todos os sócios e amigos. No iní­cio de julho vamos fazer a nossa gala dos 80 anos, em que vamos convidar muitos daqueles que passaram por cá ao longo destas 8 décadas e também apre­sentar aquilo que a Associação é hoje. Em setembro/outubro vamos ter uma conferência nacional dedicada às ban­das filarmónicas e aquilo que são hoje as principais preocupações das Bandas.
J.A.: No seu entender, o que representa para a freguesia da Branca ter uma As­sociação com 80 anos? Qual é a impor­tância disso?!
N.S.: A ARMAB é a mais antiga Asso­ciação da Branca. Para além disso, acho que as pessoas que vivem na Branca re­conhecem na Associação uma impor­tância grande porque sabem que é uma banda com uma grande dimensão e que leva o nome da Branca por aí fora.
Faz-nos falta ter uma ação mais social. Existem bandas, inclusive no nosso concelho, que têm um papel e impor­tância social muito mais ativo que nós, mas isto é uma questão de opção. Nós escolhemos um caminho de maior qua­lidade artística e de menos participação social, embora tenhamos hoje clara­mente uma importância grande naquilo que é a atividade cultural da Branca.

Diretor Artístico e Maestro - Prof. Paulo Martins
Diretor Artístico e Maestro – Prof. Paulo Martins

J.A.: Há quantos anos faz parte da Di­reção da ARMAB? Quando chegou aqui como encontrou a Associação? O que foi alterado desde então?
N.S.: Estou na Direção desde 1998. Fui Vice-Presidente de 1998 a 2008 e sou Presidente de 2008 até ao presente. Entrei na ARMAB como músico. Na­quela altura a ARMAB era uma ban­da relativamente pequena, que estava a ressurgir de um momento menos bom. No início da década de 70 houve uma fase difícil em que a banda quase pa­rou de atividade. Depois retomou e eu apanhei-a um bocadinho à frente disto com a pessoa que conseguiu retomar a atividade: Gualdino Pereira Silva. Ele “pegou” na Associação e fê-la ressurgir. Quando entrei estava cá o Maestro José Lourenço da Costa, que estava a fazer um trabalho muito importante: o traba­lho de formação de músicos. Sem nun­ca colocar de parte as romarias e festas religiosas, atualmente o nosso foco são os concer­tos em au­ditório.
J.A.: Além da respon­sabilidade acrescida, o que representa para si ser o Presidente da ARMAB?
N.S.: Além de um grande orgulho que tenho por liderar nesta altura este pro­jeto, isto é uma parte extremamente importante da minha vida. Eu vivo muito a Associação. Dedico-lhe muitas horas. A minha mulher e os meus filhos também estão envolvidos, portanto há aqui uma envolvência muito grande.
Costumo dizer que eu não sou Presi­dente da ARMAB, eu estou Presidente da ARMAB. Isto é um cargo em que se está. Quem vier a seguir vai, se calhar, fazer um trabalho muito melhor do que o meu. Não tenho dúvidas que isso é possí­vel. Faço o meu melhor e faço-o com gosto, mas de certeza que irá surgir al­guém que faça o mesmo ou melhor. E nesta altura já estava na hora de apare­cer alguém (risos).
J.A.: Neste aniversário, há alguém que gostasse de re­lembrar ou homenagear?
N.S: Ao longo da sua existência, a AR­MAB foi dirigida e apoiada por mui­tas pessoas de relevo na vida local, dos quais éda maior justiça destacar Antó­nio Pires Ladeira, 1º Presidente da Dire­ção, António de Almeida Oliveira, que lhe sucedeu e Gualdino Pereira Martins da Silva, que assumiu a revitalização da Banda em 1976 e dirigiu a Associação, praticamente, atéao seu falecimen­to em 2004. Atualmente temos uma pessoa que é determinante, o maestro Paulo Martins. É uma das pessoas mais dinâmicas e mais importantes do país na direção. Ele é, não só, um excelen­te maestro como é diretor artístico de uma escola de maestros. É uma pessoa que trouxe uma visão nova.
Outra pessoa que também tem muita importância é Flausino Silva. Ele hoje tem responsabilidade num órgão con­sultivo, é Presidente do Conselho Ge­ral. Ele vive a Associação de uma ma­neira muito intensa e dá uma ajuda muito preciosa naquilo que é o trabalho de mobilização de pessoas, por um lado, e mobilização de formas de finan­ciamento, por outro. Sem ele seria qua­se impossível termos chegado ao ponto onde estamos. Eu diria que, mais do que pessoas individuais, temos um co­letivo muito forte. Músicos, maestros… Ao longo do tempo passou por aqui muita gente e a Associação esteve sem­pre em crescimento e isso é o mais im­portante!