Carta anónima merece reparos e inspira rimas em S. João de Loure e Frossos

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Uma carta anónima, escrita em rima, com 15 quadras, provocou reações, entre o riso e a indignação, e até teve direito a uma resposta em verso, ontem, na Assembleia de Freguesia (AF) de São João de Loure e Frossos. Poesia à parte, o debate incidiu, entre outros pontos, na construção da nova unidade de saúde em Angeja, com manifestações de descontentamento, por a obra ter escapado a S. João de Loure.

“A Freguesia está moribunda, / E a oposição está a dormir. / Que se grite e faça barulho, / Não deixem a freguesia sucumbir!” (…)

“Será que vai ser sempre assim? / Será que é passageiro? / Ou só em vésperas de ir às urnas / É que vai haver dinheiro?” (…)

Estas algumas das inspiradas quadras, de um total de 15, assinadas com o pseudónimo “Bocage cá d´Aldeia”, satirizando a alegada escassez de obras em S. João de Loure e Frossos, a contrastar com o que é divulgado nas redes sociais: “No Facebook muito se escreve, / Que bonito, mas que bem! / Na Freguesia pouco trabalho / Pois para mais não há quem”, refere a carta, não lida mas mencionada, no início da AF, por Raquel Escada, presidente da mesa, e a que o Jornal de Albergaria teve acesso, no final.

Vera Almeida, eleita pelo PSD, não deixou o autor sem resposta, e, em defesa da sua dama, declarou:

“A oposição não está a dormir! / Está a fazer a sua missão. / Com críticas e perguntas a intervir, / Para o bem da população.”

Outros intervenientes, inclusive da parte do público, reagiram à carta, lamentando que o seu autor “não dê a cara”. A presidente da Junta de Freguesia, Ana Bastos, afirmou que “deve ser um ressabiado que não digeriu a derrota”, e considerou que, em vez de se esconder no anonimato, seria bem melhor “ter vindo aqui falar nesta Assembleia”. Não obstante, confessou: “Diverti-me imenso” a ler a carta.

Dar um “murro na mesa”

O início da construção da Unidade de Saúde Beira Vouga, em Angeja, cujo lançamento simbólico da primeira pedra, contou com a presença do ministro Manuel Pizarro, como o Jornal de Albergaria já noticiou, foi um dos temas em debate. Vera Almeida fez uma “nota emotiva”, como a própria definiu: “Sou enfermeira e tive um sentimento de alegria por ser um local condigno para prestar cuidados, mas, por outro lado, senti tristeza, por não ser nesta freguesia”.

A eleita lembrou que o presidente da Câmara, António Loureiro, na ocasião, pediu ao Governo recursos para reabrir a Unidade de Ribeira de Fráguas. Em seu entender, nas últimas eleições autárquicas, muitas pessoas mudaram o sentido de voto, pensando que seria mais fácil negociar se a Junta tivesse a mesma cor política que a Câmara Municipal, mas, afinal, de nada valeu. “São João de Loure tem sido negligenciada, enquanto que outras freguesias foram contempladas com investimentos”.

Por isso, apelou a que a presidente da Junta “dê um murro na mesa, em sede própria, e exija o que é de direito”.

Em resposta, Ana Bastos referiu algumas obras feitas (Centro de Interpretação Pateira de Frossos, Parque Infantil, entre outras) ou a fazer. A propósito, informou que está tudo pronto para avançar com os trabalhos no cemitério (preparação do terreno para possibilitar a construção de jazigos), aguardando-se apenas o orçamento, mediante o qual se analisará a necessidade de abrir ou não concurso público.

Quanto à nova Unidade de Saúde de Angeja, partilhou do mesmo sentimento de tristeza: “Não estive presente no lançamento da primeira pedra por opção, e disse ao presidente da Câmara, que não poderia estar satisfeita. Respeito, mas fiquei descontente por a Unidade não ter vindo para a nossa freguesia”.

Passeios adiados na Avenida da Ponte

A esta somaram-se outras matérias a merecer reparo, como o adiado projeto de construção de passeios na Avenida da Ponte. Paulo Branco, eleito de PSD, lembrou que era uma “bandeira do CDS”, ao que Augusta Paiva, eleita por este partido, salientou: “Não era uma bandeira, é uma necessidade antiga da população, porque é um perigo, mas não podemos fazer nada, e não é por falta de trabalho”.

A presidente da Junta explicou que essa obra “tem sido uma batalha”, porque a Câmara da Albergaria já fez o projeto, mas quem tem que a executar é o Município aveirense, uma vez que “do rio para lá é da jurisdição de Aveiro”.

Reclamar na Assembleia Municipal

Raquel Escada propôs que todas as preocupações da freguesia fossem apresentadas na próxima Assembleia Municipal, a realizar amanhã à noite, no Centro Cultural de S. João de Loure, e apelou à comparência e participação da população.

Embora com poucas pessoas no público, a AF proporcionou um vivo debate em que quase todos os presentes intervieram democraticamente.