Entre palavras de sentido adeus, a sessão serviu igualmente para um balanço sobre a obra concretizada e o que ficou por finalizar. Carlos Coelho orgulha-se da equipa que o acompanhou durante os últimos anos, que afirmou como “transformadores para a freguesia”.
Foto: Google Maps
A última Assembleia de Freguesia da Branca antes das eleições autárquicas, marcadas para dia 12 de outubro, decorreu, na noite passada, 4 de setembro. A sessão começou por aprovar, de forma unânime, um voto de pesar pelas vítimas do acidente do elevador da Glória, no dia em que se cumpriu Luto Nacional. O voto será endereçado ao Município de Lisboa ou à Carris.
A sessão centrou-se num balanço dos 12 anos de executivo de Carlos Coelho, presidente da Junta de Freguesia da Branca. As questões e pontos de situação foram levados a plenário por Jorge Almeida, membro da Assembleia eleito pelo CDS-PP; e Hélder Dias, único elemento da oposição (PSD).
Sobre o que ficou por fazer do programa eleitoral do atual presidente, Hélder Dias referiu a piscina na freguesia e a construção de uma pump track, campo de minigolfe e campo de tênis. Carlos Coelho reforçou que já havia assumido e lamentado que a piscina ficaria por fazer e explicou que os outros três projetos foram pensados como parte integrante do Parque da Vila – que, por sua vez, não está finalizado pela falta de colaboração dos proprietários de três terrenos necessários para a empreitada avançar.
Não basta querer
“Fico um pouco triste de não poder dar os parabéns por estar tudo feito”, disse o membro único do PSD, referindo-se igualmente ao parque de autocaravanas e acusando a ‘criação’ da Casa das Associações e do Espaço da História da Branca ter sido “mais uma requalificação da Junta” do que o nascimento de estruturas de raiz.
Carlos Coelho contrapôs que ambos os espaços estão criados e a dar frutos. A Casa das Associações é utilizada, atualmente, pela Jobra, Grupo Etnográfico ‘Memórias e Tradições’ e para aulas de karaté. A Junta de Freguesia disponibiliza a sala de forma gratuita às associações da terra e abre-a a privados mediante pagamento. No Espaço da História continua a promover-se uma viagem ao passado, através de objetos e registos fotográficos, de onde sai agora uma exposição dedicada aos achados no Monte Arqueológico de São Julião.
Em relação ao parque de autocaravanas, o presidente da Junta, que manifestou o desejo para uma localização diferente da decidida pela Câmara Municipal de Albergaria, sendo a empreitada feita em parceria, avançou que o espaço será construído “ao lado do futuro Mercado da Branca, onde era o antigo aviário, na parte de trás do Parque da Vila”.
O próprio Mercado da Branca “não será aberto até ao final do mandato”, disse Carlos Coelho. O projeto será um espaço multiusos – não apenas mercado – com bancas amovíveis. Na reunião de Câmara que decorrera no mesmo dia, de manhã, em Albergaria, António Loureiro, presidente da autarquia, anunciou que o espaço será inaugurado este mês, apesar de não apresentar ainda a funcionalidade de um mercado.
“Há timings que, por muita boa-vontade e empenho que tenhamos, não conseguimos controlar. Há muito que não depende de nós. Mas, não tenho dúvidas que toda a obra vai ser, um dia, feita na Branca”, assegurou Carlos Coelho, num trabalho que deixa para quem vier a seguir.
Elogios à obra feita
A requalificação total do cemitério da freguesia foi louvada por todos os membros da Assembleia. “Como alguém um dia dizia, é uma obra honrosa e monumental”, afirmou Jorge Almeida. “Arrisco-me a dizer que foi a obra deste mandato”, declarou Hélder Dias.
A empreitada incluiu nova pavimentação típica nacional, iluminação no local, novo sistema de escoamento de águas, ossários, gavetões, ampliação do espaço para sepulturas e câmaras de videovigilância. O orçamento para o projeto inicial – que engloba iluminação, escoamento e calçada – rondava os 150 mil euros.
“Está concluída e paga. Há largos anos que andávamos a poupar para esta obra. É um espaço pelo qual tenho muito respeito e só honrando o passado é que conseguimos honrar o presente e o futuro. A obra não é minha, nem de nenhum membro do executivo. É nossa”, afirmou Carlos Coelho.
Em relação à colocação de placas toponímicas pela freguesia, um projeto a ser concretizado ao longo do mandato, os trabalhos encontram-se na reta final, com “apenas 7 ou 8 placas em falta”, que já estão na posse da Junta, após a falta de alguns elementos na última remessa e nomes mal escritos.
Em fase de últimos retoques está igualmente a empreitada do Largo da Nossa Senhora da Aflição, onde “estão a terminar a zona de passeios, a pintura em alguns muros e a passar massa fina nos degraus; deverá estar pronta para a semana”, detalhou o presidente da Junta.
Sobre a construção de passeios e limpeza de valetas, Hélder Dias afirmou ter sido “feita alguma coisa” e Carlos Coelho respondeu que, no futuro ideal, todas as ruas terão pelo menos um passeio de um dos lados, à semelhança do que foi feito em Casaldima, um desafio que deixa a quem o suceder.
Informação contraditória
Carlos Coelho lembrou ainda iniciativas como as Cabines de Leitura na rua, uma forma de enaltecer a importância dos livros; e as celebrações natalícias na freguesia. O presidente deixou um agradecimento a todo o executivo e colaboradores da Junta; com um obrigado dirigido aos 18 trabalhadores que se dedicam à manutenção do espaço público, a quem agradeceu especialmente pela limpeza de todos os lugares a tempo das respetivas festas.
Sobre o Bar com esplanada e WC público, que terá lugar no Parque da Vila, que seria dinamizado por uma coletividade local, o presidente da Junta explicou que as associações que tinham mostrado interesse desistiram, um sinal dado pela ausência de resposta à Câmara Municipal de Albergaria, como disse ter sido informado pela autarquia.
No espaço para intervenção do público, Vera Marques, em representação da ARMAB – Associação Recreativa e Musical Amigos da Branca indicou que a afirmação não correspondia à verdade. O Jornal de Albergaria tentou entrar em contacto, por chamada telefónica, com o presidente da Câmara Municipal para conhecer a proposta apresentada às coletividades. Até ao momento, não obtivemos resposta. A informação será atualizada de acordo.
Na hora da despedida
A fechar um mandato de quatro anos como membro único do PSD na Assembleia, Hélder Dias esperou “ter honrado todos os votos” que obteve em 2021, num período em que afirmou ter expressado “opinião de forma correta e livre”. O eleito confessou “não ser um papel fácil” participar de forma crítica sabendo que o voto não altera qualquer decisão tomada em Assembleia.
Hélder Dias agradeceu a “forma cordial e correta” como foi tratado pelo presidente da Junta e respetiva equipa. “Não tenho dúvidas nenhumas de que o executivo sempre agiu da melhor forma possível e com a melhor das intenções”, disse o eleito pelo PSD. Em concordância, Carlos Coelho assegurou o membro da Assembleia que “honrou o mandato” e soube “como oposição, elogiar e criticar”.
Luís Silva, membro da Assembleia, endereçou uma mensagem de admiração e lealdade ao presidente e cidadão Carlos Coelho, “que arregaçou as mangas por causas públicas” e usou a obra feita como forma de responder aos críticos do seu trabalho. Luís Silva lembrou quando o atual presidente “correu a freguesia a apresentar-se aos eleitores, sempre frisando que não se considerava melhor que quem terminava o mandato”.
“Obrigado, Carlos Coelho; e, porque sempre fizeste questão de o expressar perante todos, obrigado a todos os que trabalham contigo”, terminou Luís Silva. Marisa Almeida louvou o “orgulho, responsabilidade e consciência” com que o presidente exerceu os “três mandatos que elevaram a Branca a freguesia exemplo”, nas palavras da eleita pelo CDS-PP.
Marisa Almeida agradeceu o “legado deixado em livros e revistas dedicados à história da freguesia e a inclusão presente na contratação de funcionários”; e a continuidade de medidas como a atribuição de um apoio a famílias mais necessitadas, criado durante a pandemia. “Obrigada pela confiança e honra que nos deram para estarmos frente aos desígnios da freguesia”, terminou.
Adeus com ‘Torga’ e orgulho
Por fim, Carlos Coelho, emocionado, começou por dizer que acredita “veementemente que os últimos anos foram transformadores para a freguesia”, tendo sido tempos mais próximos do “povo, empresas e associações”, considerando cumprido o objetivo de unir a freguesia como um todo.
O ainda presidente afirmou ter trabalhado “dela e para ela”, nunca se tendo servido da freguesia para proveito próprio. Carlos Coelho mostrou orgulho por deixar uma Junta mais organizada e com saldo positivo.
O autarca agradeceu o voto de confiança e a todos os trabalhadores que o acompanharam de 2013 a 2025. “As minhas equipas conseguiram deixar uma marca muito específica”, frisou. Carlos Coelho lembrou os momentos mais difíceis do mandato – as cheias, os incêndios e a covid – e reforçou ter estado “sempre ao lado da população, como tem e deve ser”.
“As palavras nunca serão suficientes para expressar o que sinto pela Branca e as suas gentes”, disse Carlos Coelho. Para sintetizar a vontade de fazer mais e diferente que sentiu ao longo dos mandatos, pediu palavras emprestadas a Miguel Torga: “Enquanto não alcances, não descanses. De nenhum fruto queiras só metade”.