Centro de Saúde de Albergaria continua a dar “pano para mangas”

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Utentes desesperam por respostas e dizem que “há má gestão no centro de saúde”. Telefones tocam sem que sejam atendidos. Receitas não são aviadas. Muitos queixam-se que não têm médico de família. A nível de estruturas, o edifício carece de manutenção, havendo várias infiltrações, humidade, estores e janelas partidas…
O funcionamento do Centro de Saúde está a gerar uma onda de indignação entre os utentes. As queixas não são novas, mas as denúncias por parte da população são uma constante e têm vindo a público nos últimos meses. Nas redes sociais há relatos de várias situações de descontentamento.
A situação foi reportada ao Jornal de Albergaria na primeira pessoa. Niara Bastos diz estar revoltada com o “mau atendimento” do Centro de saúde e afirma mesmo que sente que está “entregue à bicharada em questões de saúde”. Num relato mais aprofundado revela que nem ela nem o marido têm médico de família há pelo menos dois anos e não lhe são apresentadas soluções. “Não temos médico de família. O Drº Melo foi para a reforma e atribuíram-me a Drª Margarida Vale Neto, que foi de baixa. Entretanto fiquei com a Drª Ana Miranda, que também foi de baixa… Como consequência disso não tenho exames, não faço uma consulta de planeamento há dois anos, consultas só pelo telefone. Até para pedir receitas médicas é um problema. Cheguei a ligar quase todos os dias. Ora não atendiam, ora descartavam responsabilidades… tive de esperar cerca de um mês para me passarem uma receita de medicamentos que eu precisava, o que acho inadmissível. Pergunto-me: agora que vem aí o Inverno, o que será de todos nós? É assustador o atendimento que temos. Ainda mais em plena pandemia”, afirmou indignada. Há vários utentes em situações similares.
Pedro Almeida, Diretor Executivo do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Baixo Vouga, afirmou ao Jornal de Albergaria o Centro de saúde em Albergaria tem atualmente 25.972 utentes inscritos. Destes, “cerca de mil utentes” estão sem médico de família, “o que faz com que haja uma taxa de cobertura com médico de família de 96% em Albergaria-a-Velha. A maioria dos cidadãos sem médico de família são residentes no sul do concelho (Alquerubim, Angeja e São João de Loure e Frossos), mas que se encontram inscritos como utentes na USF Rainha D. Tereza e não na USF Beira Vouga, que é a unidade responsável pelo acompanhamento dos utentes residentes na zona sul do concelho”.
Questionado sobre como devem proceder os utentes que não têm médico de família atribuído, o Diretor Executivo do ACES Baixo Vouga esclarece que “devem continuar a dirigir-se à unidade onde se encontram inscritos, que é a USF Rainha D. Tereza, e que é responsável pelo seu acompanhamento, seja não presencial, seja presencial ou por outro médico da Unidade. No entanto, estes utentes, não tendo médico de família, continuam a ter enfermeiro de família atribuído pelo que as situações da área da enfermagem continuam a ser acompanhadas. Em relação aos utentes atualmente sem médico de família, cumpre-me ainda salientar que a situação poderá ser ultrapassada, integrando esses utentes na USF Beira. No entanto, será necessário, com a colaboração da Autarquia, proceder à ampliação dos contentores em Angeja ou à adaptação de espaços provisórios que já existam na localidade, e de forma a que seja possível criar condições para que trabalhem naquela unidade um médico de família e um enfermeiro de família adicionais para dar resposta à população sem médico de família”.
Pedro Almeida fez ainda saber que “considera-se, em Albergaria-a-Velha, que quando o médico está ausente, temporariamente por motivos clínicos, já não há médico de família, o que é errado. O facto do médico se encontrar ausente temporariamente não retira o médico de família ao cidadão e, por outro lado, a unidade onde este se encontra inscrito deve continuar a assegurar a atividade assistencial ao utente”.
Sucessivas denúncias preocupam partidos políticos
O Bloco de Esquerda (BE) revelou no início deste mês que questionou o Governo sobre a situação do Centro de Saúde de Albergaria-a-Velha e que, apesar de sucessivos alertas, continua sem uma intervenção de fundo para acabar com as infiltrações. “Falta iluminação em alguns consultórios médicos (o que prejudica a consulta e a própria análise clínica em alguns casos, obrigando os profissionais a levarem candeeiros ou usarem outras fontes de iluminação), a caldeira encontra-se avariada e, por isso, o edifício torna-se gelado no inverno, quer para profissionais, quer para utentes, o que é pior nos casos de consultas de bebés e crianças ou permanência no edifício de pessoas doentes. Há ainda a situação de infiltrações de água e da falta de manutenção do espaço exterior”, são alguns dos problemas expostos pelo Bloco de Esquerda. É de recordar que em outubro do ano passado o Centro de Saúde chegou mesmo a ser encerrado por não reunir condições de segurança.
O assunto volta a ser levantado pelo BE que recorda, na altura, ter questionado o Governo sobre a necessidade de intervir na infraestrutura do Centro de Saúde. No entanto, um ano depois, “continua tudo na mesma”, apesar de o governo ter respondido na ocasião que “a ARS Centro elaborou um estudo de arquitetura para a requalificação do edifício, que foi estimado em 850 mil euros”.
Entretanto, também a Distrital de Aveiro do PSD emitiu um comunicado onde afirma que tem constatado “que até à presente data continuam encerradas dezenas de Extensões de Saúde e inoperacionais dezenas de Unidades de Saúde Familiar. Constatámos que dezenas de médicos a trabalhar para o Serviço Nacional de Saúde estão a dar consultas por telefone. Não entendemos, nem aceitamos, porque encerraram e ainda não entraram em funcionamento aqueles equipamentos, essenciais à saúde dos utentes, à prevenção e combate da doença, assim como ao controlo diário da evolução e detecção de eventuais casos e focos de Covid-19. Os utentes do distrito de Aveiro não têm encontrado, na generalidade dos equipamentos do Serviço Nacional de Saúde aqui existentes, uma resposta cabal para os seus mais diversos problemas de saúde e, sabemos, nem aos profissionais que aí trabalham foram asseguradas as melhores condições de trabalho e segurança!”. No mesmo documento pode ainda ler-se que “não tenhamos dúvidas, se fosse feita uma inspeção profunda ao funcionamento recente do Serviço Nacional de Saúde, concluir-se-ia que terão já ocorrido casos de agravamentos irremediáveis de doença que se terão tornado fatais e terão antecipado a morte para dezenas de utentes que aguardavam ou esperavam uma resposta adequada do Serviço Nacional de Saúde”.
As preocupações relativamente à saúde também se fazem ouvir no PS. No Congresso Distrital do Partido, que decorreu em setembro em Sever do Vouga, o Presidente da Concelhia de Albergaria-a-Velha, Jesus Vidinha, teve a oportunidade de expor à Ministra da Saúde, Marta Temido, as preocupações e os principais problemas no setor saúde no concelho.
Também o CDS já interrogou por diversas vezes Ministra da Saúde sobre a degradação do acesso a cuidados de saúde em Albergaria-a-Velha. Em Setembro, por exemplo, deputados do partido mostraram-se preocupados com a falta de cirurgiões no Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV), nomeadamente no Hospital Infante D. Pedro (Hospital de Aveiro).
De modo similar, o PCP já fez saber por inúmeras vezes que “o direito à saúde tem de ser para todos”, remetendo a questão ao governo e exigindo “melhores condições das instalações físicas do Centro de Saúde de Albergaria e mais profissionais, incluindo pessoal médico, administrativo e enfermeiros”.
 
O Centro de Saúde de Albergaria-a-Velha integra 3 unidades funcionais:

  • USF Rainha D. Tereza, sediada em Albergaria-a-Velha, e que deve dar acompanhamento preferencial aos cidadãos residentes na freguesia de Albergaria-a-Velha e Valmaior (centro do concelho)
  • USF Beira Vouga, sediada em Angeja, e que deve dar acompanhamento preferencial aos cidadãos residentes nas freguesias de Angeja, Alquerubim e São João de Loure e Frossos (oeste sul do concelho)
  • UCSP Branca, sediada na Branca, e que deve dar acompanhamento preferencial aos cidadãos residentes nas freguesias de Branca e de Ribeira de Fráguas (este e norte do concelho)