A perícia dos criminosos, o apelo ao sentimento de medo ou empatia e uma narrativa credível – o tal “conto do vigário” – são elementos que caracterizam as burlas e as distinguem da natureza violenta e coagente dos roubos.
“As pessoas não são roubadas porque acabam por entregar o bem de forma voluntária”, explica a agente da GNR Susana Marques, que, juntamente com o agente Luís Baeta, protagonizou a sessão de sensibilização dedicada a atitudes preventivas perante tentativas de burla.
A ação, que decorreu esta tarde na Biblioteca Municipal de Albergaria, inseriu-se no ‘Apoio 65’, programa da GNR que visa a proteção da população mais idosa, com o propósito “aumentar o grau de confiança e conhecimento” como forma de gerar segurança.
Agir com tempo
As burlas, explicaram os agentes, podem assumir as mais diversas formas: abordagens da rua, SMS suspeitos, e-mails maliciosos ou telefonemas mal-intencionados. Uma das táticas comuns é o envio de uma mensagem de texto falsa a alertar o para um iminente corte nos serviços de luz ou água.
“Devem lembrar-se que, mesmo que seja verdade, os serviços nunca são cortados de um dia para o outro. Não entrem em pânico porque é nesse estado que tendemos a aceder ao pedido. Fiquem calmos e telefonem às operadoras ou dirijam-se lá no dia seguinte”, aconselhou Susana Marques.
À normal reação nervosa, acresce o “já estarmos formatados para que tudo seja rápido e para agir no momento, para fazer um pagamento basta carregar num botão e isso nem sempre ajuda”, acrescenta Luís Baeta.
Na rua, mesmo que bem-intencionado, deve evitar dar informação a desconhecidos sobre si ou terceiros. “Uma coisa que acontece muito, sobretudo no meio mais rural, é comentar que o vizinho não está em casa ou que ‘até lhe morreu um filho’ quando nos perguntam sobre a pessoa. Em poucos segundos acabamos por revelar a rotina e até algumas vulnerabilidades das pessoas”, alertou a agente.
Mundo digital
Para evitar casos de burla fora do online, a gerontóloga municipal Mariana Letra lembra que os técnicos da Câmara Municipal de Albergaria “andam sempre identificados e com viatura própria”, pelo que, caso não os reconheça, deve ligar para a autarquia a confirmar se o pedido de Ação Social ou outro serviço ao domicílio foi realmente ordenado pela Câmara.
Para navegar pela internet, os oradores aconselham que os mais idosos – e a população em geral – sigam a regra de “tudo o que é proibido e desaconselhável fora do online, também o é no espaço virtual”. Como exemplos referem práticas como o cyberbullying, fornecer dados a entidades desconhecidas, abrir hiperligações suspeitas, aceitar pedidos de amizade de desconhecidos ou tomar toda a informação como factual.
Para o quotidiano, os palestrantes recomendam que tranquem sempre as portas e janelas, coloquem um ‘óculo’ ou corrente na porta e que não deixem ninguém suspeito entrar. Na rua, devem evitar sair de noite, redobrar a atenção quando vão ao multibanco, trocar dinheiro apenas no banco, andar apenas com os essenciais e não usar bens preciosos.
Os agentes da GNR lembram que, em qualquer situação, o excesso de confiança não ajuda. “Os que dizem ‘Epa, que disparate! Como é que foram cair nisto?’ são os primeiros a ser lesados. Estes casos tendem a não fazer a denúncia por vergonha ou por não quererem que os familiares saibam o que se passou”, partilha Luís Baeta.
Se testemunhar um comportamento suspeito ou considerar que está a ser vítima de burla, ligue à GNR – o contacto de Albergaria é o 234 521 237. Apesar do tempo normal de uma viagem de carro até ao local indicado e a falta de meios reconhecida pelos próprios agentes, não hesite em contactar para pedir ajuda e/ou tentar descrever o suspeito com maior grau de detalhe possível.