“Deixámos de ir ao fim do mundo. E às vezes nem vamos ao fim da rua”, dizia Fernando Alves, em entrevista ao Público, o homem que escreveu o famoso slogan da TSF, rádio que ajudou a fundar e que recentemente abandonou. A crítica pela falta de tempo e condições de trabalho dos jornalistas ecoa por toda a classe, condição contra a qual o Jornal de Albergaria resiste diariamente. Deixamos uma palavra de solidariedade para todos os que, não por falta de esforço ou mérito, mas por falta de apoio e reconhecimento, tiveram de fechar portas.
Em Portugal, mais de metade dos concelhos do país é ou está em perigo de ser um deserto noticioso. Não há jornais impressos a fazer cobertura noticiosa frequente em 182 concelhos – são 59% dos concelhos do país – e há 157 sem qualquer meio digital noticioso. Estes são dados recentes do ‘Desertos de Notícias Europa 2022: Relatório de Portugal’, da Universidade da Beira Interior.
Enquanto se achar que há informação desinteressada sem jornalismo, quem ajuda os jornais vai sempre achar que manda, ao invés de se orgulhar de fazer parte e poder usufruir de um meio de comunicação isento. A censura morreu com o 25 de Abril, mas muitos não mataram o conforto de ligar para o Jornal e perguntar ‘vais mesmo publicar isso?’ ou ‘vê lá que isso é um tema sensível’, fora as clássicas ameaças de processos em Tribunal.
As não respostas também falam. O silêncio. As chamadas não atendidas, os e-mails sem resposta e os ‘agora não posso, estou a trabalhar’ como se falar com os meios de comunicação não fosse parte integrante do trabalho de quem representa os eleitores. Gratos e sensibilizados com o reconhecimento público feito aos meios de comunicação locais, no dia 6 abril, no arranque das celebrações do meio século de Liberdade, queremos a transparência e direito à informação de Abril durante todos os meses do ano, todos os anos e para sempre.
Nos concelhos onde o jornalismo não chega, continuam a existir páginas de Facebook dos políticos locais, comunicados de imprensa, propaganda política e informação empresarial, mas nada disso é jornalismo. Temos de pedir infinitas e sempre insuficientes desculpas pela quantidade de vezes que o jornalismo se deixa confundir com tudo isso. Pedimos o mesmo sentido crítico ao público – que saiba distinguir. Temos outro pedido. Hoje, assinem um jornal. Gostávamos que fosse o nosso, mas não tem de ser. Há muitos e todos precisam. Escolha um. Escolha o jornalismo.