Enquanto os jogos dos quartos de final só começam amanhã, é tempo de a Caderneta de Cromos viajar no tempo até 2010 para revisitar o mundial de África do Sul.
Era uma vez… o Mundial | “This Time for Africa”
Esta era a canção oficial do mundial da África do Sul. O Waka-waka de Shakira é ainda hoje conhecida como uma das mais famosas canções de mundiais de futebol e mostrou um pouco do que era a cultura sul africana num mundial diferente e recheado de música e cor.
África do Sul recebia o mundial de futebol pouco mais de uma década depois do fim do Apartheid, um período bastante conturbado na história daquele país, onde durante décadas as pessoas eram segregadas racialmente, onde a raça determinava onde as podiam trabalhar e viver, se podiam ou não votar, enfim, uma série de políticas relacionadas com a segregação racial.
Para mostrar ao mundo que o país era de novo um bom sítio para viver e acolher os outros, o governo, liderado por Nelson Mandela, acolheu a maior competição de futebol do mundo, no que é conhecida até hoje como a festa do futebol.
As vuvuzelas, pequenas cornetas de plástico e ensurdecedoras, foram uma das imagens de marca deste mundial. A outra foram os muitos golos de belo efeito, que para isso contribuiu uma bola diferente, a Jabulani, que era muito amiga de quem a rematava, mas era um terror para os guarda-redes. O facto de ter umas linhas diferentes fazia com que a bola, no ar, ganhasse um efeito estranho e sempre que entrava em contacto com o chão, o efeito era quase o oposto.
O primeiro mundial em África coincidiu também com um novo campeão do mundo: a Espanha. Baseada no estilo de jogo da equipa do Barcelona de Pep Guardiola, o tiki taka, em que a posse de bola era peça essencial, troca de bola rápida, mudança de flanco, controlar e dominar todos os aspetos do jogo com bola, a Espanha foi assim derrotando os seus adversários até à célebre final com os Países Baixos.
Os espanhóis até perderam o primeiro jogo contra a Suíça, mas isso serviu de alarme e a partir de então construíram uma fortaleza defensiva que os permitiu marcar apenas 8 golos para ser campeã do mundo.
Portugal, já com Carlos Queiroz ao comando, chegou à África do Sul algo conturbado. Nani lesionou-se à última da hora, Pepe apresentava problemas físicos e Cristiano Ronaldo estava numa atípica seca de golos. O primeiro jogo do grupo resultou num nulo diante da Costa do Marfim de Didier Drogba, e seguiu-se uma goleada histórica por 7-0 à Coreia do Norte. O terceiro e último jogo foi outro nulo, desta vez com o Brasil, na segunda vez que as duas equipas se defrontaram em mundiais. Portugal avançou para ser eliminado nos oitavos de final contra a futura campeã do mundo, Espanha. O jogo fica marcado por um golo de David Villa em fora de jogo.
Os Países Baixos eliminaram a Eslováquia nos oitavos, bateram o Brasil nos quartos e o Uruguai nas meias, para depois voltarem a cair do topo da montanha, com um golo de Iniesta no prolongamento. Nesse jogo há dois momentos. A defesa incrível de Casillas a um lance isolado de Robben, e o golo de Iniesta, que festeja efusivamente ao dedicar o golo a um ex-colega de seleção que, entretanto, falecera: Dani Jarque.
A Argentina de Messi e Maradona, o segundo como treinador, chegou aos quartos de final para ser goleada pela Alemanha por 4-0. A Alemanha que cairia aos pés da Espanha nas meias-finais, depois de também golear a Inglaterra nos oitavos de final, num jogo que deu que falar. Com 2-1 para a Alemanha, a Inglaterra viria a chegar ao empate por Lampard. Só que os árbitros não viram que a bola transpôs a linha. Os germânicos viriam a fazer mais dois golos e terminar o jogo em 4-1, mas esse golo podia ter mudado o rumo do jogo. Esse golo e os polémicos foras de jogo, como o de Villa a Portugal, viriam a ser decisivos para a implementação da tecnologia da linha de golo e, mais tarde, do VAR, por parte da FIFA.
O Uruguai foi a equipa sensação do mundial, ao chegar às meias-finais da competição. Forlán foi o melhor marcador da competição e diz-se que o avançado uruguaio terá pedido autorização para treinar com antecedência com a nova bola para se afeiçoar a ela. Dos seus pés saíram belos golos, ele que era um avançado conhecido pelos grandes remates de fora de área. O jogo dos quartos de final, diante do Gana, vai ficar sempre para a história da competição.
No último minuto do jogo, Suarez fez de guarda-redes e defendeu a bola com a mão, sendo depois expulso por Olegário Benquerença, árbitro português. O Gana ganhou um penalti e quando já todos festejavam, Guyan acerta na barra e a bola sai por cima da baliza. O jogo viria a ser decidido nos penaltis, com o Uruguai a sair vitorioso do confronto, para depois perder para os Países Baixos.
Fotos: DR