Conhecido dos albergarienses como historiador e pela Confraria da Raça Marinhoa, Alfredo Côrte-Real foi alvo de uma investigação SIC que coloca em causa a descendência que afirma ter de D. Afonso Henriques (e não só) e acusa-o de usar o título de príncipe do Havai, por se ter casado com a princesa Idony Punhele, para organizar eventos solidários. Após a reportagem, a Casa Real do Havai veio exigir documentação comprovativa dos títulos e anunciou a separação do casal.
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Testemunhas e especialistas ouvidos pela investigação SIC contestam a descendência de Alfredo Côrte-Real de D. Afonso Henriques e de navegadores portugueses, afirmando que muitas pessoas descendem de figuras históricas sem por isso reivindicarem títulos. Uma das entrevistadas foi Teresa Côrte-Real, antiga presidente da Causa Real. Para além das ligações que afirma ter com monarcas portugueses da primeira e segunda dinastias, Alfredo Côrte-Real diz conseguir nomear os seus antepassados até 1331 a.C.
O casamento com a princesa Idony Punhele, em 2023, fez de Alfredo príncipe consorte do Havai, sendo a princesa representante da Casa Real do Havai por ser neta do príncipe George I, descendente do Rei Kalakaua, pertencente ao ramo detentor do Direito “de jure”, que transmitiu à princesa a responsabilidade de ser a atual chefe da Casa Real, como refere a respetiva Fundação.
A reportagem SIC refere que uma outra família, a Kamakahelei, coloca em causa a legitimidade de Idony Punhele como representante da Coroa. Em 2023, a televisão havaiana noticiou a morte de Abigail Kinoiki Kekaulike Kawananakoa como princesa do Havai.
No seguimento da reportagem SIC, a Casa Real do Havai “solicita, com a devida cortesia institucional, que quaisquer documentos ou informações relevantes atinentes ao Senhor Dom Alfredo Côrte-Real […] sejam encaminhados por vias formais”, como se lê na nota enviada à televisão.
No comunicado, é também confirmada a separação de facto entre Alfredo Côrte-Real e Idony Punahele. A Casa Real afirma que o casamento foi celebrado com o intuito de reforçar laços históricos e culturais entre casas reais, mas que os dois se encontram atualmente separados.
Entre os padrinhos de casamento estiveram os Duques de Loulé, a quem Alfredo Côrte-Real reconhece a legitimidade da Coroa de Portugal, e não a D. Duarte Pio de Bragança, tema sobre o qual escreveu o livro ‘A Verdadeira Casa Real de Portugal’ (2022), resultado de “investigação minuciosa e rigorosa de muitos anos em busca da verdade”, como se lê na sinopse da obra.
Gala de Sacer
Conhecido dos albergarienses como historiador e um dos fundadores da Confraria da Raça Marinhoa, Alfredo Côrte-Real tem promovido eventos de angariação de fundos em nome da Ordem de Sacer, de que é Grão-Mestre, e da Casa Real do Havai. Parte das verbas recolhidas é canalizada para a Ordem, como aconteceu no Baile de Príncipes de que fala a reportagem SIC, referindo ainda que a vertente de angariação de fundos não foi autorizada pelo Ministério da Administração Interna, como exigido por lei.
Ao que o Jornal de Albergaria conseguiu apurar, no caso da Gala de Sacer, o valor angariado foi entregue à associação local destinada. O dinheiro não foi gerido pela Ordem de Sacer, sendo esta apenas parceira da organização.
A Gala realizou-se em março de 2024 e a Ordem de Sacer de Portugal foi criada como associação em abril de 2025, cerca de um mês antes do baile de angariação de fundos em que se foca a reportagem SIC. Alfredo Côrte-Real chegou a esclarecer ao JA que os estatutos canónicos da Ordem permitem a organização de eventos para angariação de fundos. Ficámos de agendar uma entrevista mais completa e não voltámos a obter resposta, após várias tentativas por chamada telefónica e sms.
Segundo nos contou Alfredo Côrte-Real aquando da realização da Gala de Sacer, a Ordem de Sacer foi criada em 1570 com a união das Irmandades de Veracruz e Santa Ana, na Villa de Saceruela (Ciudad Real). A Ordem está ligada ao Mosteiro de Guadalupe, em Cáceres, Espanha, e foi “criada, essencialmente, para proteção dos peregrinos em romaria a Nossa Senhora do Guadalupe”.
Acusações de abandono animal e falsificação de documentos
Alfredo viveu, durante alguns anos, no Mosteiro de São Salvador de Palme, uma propriedade histórica em Barcelos de que herdou uma quinta parte, por alegada vontade de uma tia.
Os outros herdeiros contestaram o testamento, alegando falsificação de um documento não autenticado por um notário que contém duas assinaturas que não coincidem com a da tia. Apesar disso, a família respeitou o testamento, numa fase inicial, mas depois exigiu a devolução dos 80 mil euros recebidos, que Alfredo acabou por pagar.
A sua presença em Barcelos terminou com vizinhos e autoridades locais a relatarem maus-tratos a animais, incluindo cavalos e cães deixados a morrer à fome. A GNR recebeu várias queixas. Alfredo Côrte-Real negou, à SIC, todas as acusações. “Infelizmente, as pessoas são invejosas. Eu entrava em competições com os cães – que são naturalmente magrinhos – e estava a matá-los à fome? Eu queria é que as pessoas se preocupassem mais a fazer bem do que procurarem prejudicar quem, por muitas vezes, já lhes deu a mão”, disse Alfredo, à SIC.