Danças em grupo, concertos, pintura de murais e azulejos, atividades religiosas, piqueniques e passeios pelo património fizeram os Dias nas Dioceses em Albergaria-a-Velha. As centenas de jovens alemães e italianos, acolhidos por famílias do concelho, para além das memórias criadas em comunidade, levam consigo uma lembrança para entregar ao Papa.
As semanas que antecederam a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foram recheadas de atividades culturais e de lazer preparadas pelas localidades anfitriãs, para os jovens estrangeiros que estarão hoje em Lisboa, onde se esperam 1,5 milhões de pessoas, de 1 a 6 de agosto.
O arciprestado de Albergaria, durante os Dias nas Dioceses, na última semana de julho, recebeu perto de 200 jovens: 75 alemães em Valmaior, 61 italianos em Angeja e em São João de Loure e Frossos e 50 alemães em Ribeira de Fráguas e na Branca.
Os dias foram dedicados à apresentação das Paróquias locais e famílias de acolhimento, bem como a formas criativas de dar a conhecer o património cultural e natural do concelho. “Qualquer um de nós pode ser turista, mas estar dentro de uma família permite acesso a uma perspetiva genuína dos lugares e freguesias”, contava João Tavares, coordenador do Comité Organizador Paroquial (COP) Valmaior, ao Jornal de Albergaria (JA).
As formas de transmitir a regionalidade de cada local desdobraram-se em atividades como aprender a fazer pão com chouriço no Parque de Lazer do Chão do Ribeiro (Mouquim), um peddy papper para conhecer Angeja e Frossos, descer Vilarinho de S. Roque em carrinhos de rolamentos, fazer pão na DonAldeia (Telhadela), pintar telas em Angeja, uma visita à Pateira de Frossos ou um piquenique na Torreira, já fora do concelho de Albergaria, entre muitas outras.
Eternizar a passagem
Na manhã de sexta-feira, dia 28, que começou com música e danças em grupo, ao som do DJ Horse, a mascote cavalo que não quer ver ninguém parado, os jovens acolhidos por famílias valmaiorenses, vindos de Colónia e Düsseldorf (Alemanha) e os membros da COP Valmaior pintaram o símbolo da JMJ2023 e referências às cidades natais alemãs no Parque de Lazer de Valmaior, marca que fica em memória dos tempos de convívio e amizade passados em terras albergarienses.
“Estamos muito gratos por estarem a fazer tudo isto por nós, sempre atentos às nossas necessidades”. “Já é como uma segunda família, sentimo-nos em casa.” “Toda a gente é muito simpática e acolhedora”. Foram as palavras de agradecimento dos jovens, retiradas de alguns testemunhos recolhidos pelo JA.
A união entre os dois países, Portugal e Alemanha, criou raízes no Parque com a plantação de duas azinheiras, a árvore onde Nossa Senhora de Fátima apareceu aos pastorinhos, explicavam os guias. “E vamos voltar. Temos de ver como crescem as nossas árvores”, acrescentou uma das participantes.
Entre tinta e terra, os jovens alemães explicam-nos que, para juntar ao símbolo da JMJ, estão a pintar os emblemas de dois clubes de futebol rivais, unidos num só círculo, como símbolo de paz e união, diziam, com um toque de humor.
Azulejos com o Bispo
O Cineteatro Alba, o Arquivo Municipal, a Biblioteca e os Paços do Concelho foram os pontos visitados por todos os jovens que ficaram em famílias de acolhimento em Albergaria. Os três grupos, no final da tarde de sexta-feira, receberam as boas-vindas em cada um dos equipamentos municipais, bem como uma breve introdução sobre a importância do edifício e dos ilustres que contribuíram para os erguer.
“Estão todos convidados a ficar por aqui. Precisamos de jovens e somos um Município Amigo da Família que está a criar muitos postos de emprego”, convidou António Loureiro, presidente da Câmara, ao receber a multidão, faseadamente, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, enaltecendo a “grande riqueza” que a Natureza dá a Albergaria e a que vem das “pessoas que aqui vivem e trabalham”. “Bem-vindos e boa Jornada. Esperamos muito desta juventude”, despedia-se.
O Centro Paroquial de Albergaria foi a última paragem do passeio, onde 192 jovens participaram num workshop de azulejaria com a artista local Isaura Lalande. Entre os aprendizes, o bispo de Aveiro, António Manuel Moiteiro Ramos, deu o exemplo e pintou, no seu quadrado, o lema do escudo episcopal, com descontração e uma mãozinha da formadora.
As peças cerâmicas, assim que prontas, serão dispostas para formar um mural, próximo do antigo Quartel dos Bombeiros, completando a iniciativa municipal Deixa a tua Marca no Concelho. “Fiquei muito contente quando recebi o convite. Sou das poucas pessoas em Albergaria com esta profissão e é importante não deixar morrer uma arte com tanta portugalidade. É um honra fazer parte de algo que vai deixar marca”, partilhava a artista.
A sexta-feira terminou no Parque da Mobilidade, junto às Piscinas Municipais, na Noite Cultural, organizada pelo Município em parceria com a JMJ2023. A festa apresentou, aos convidados, artistas albergarienses – Cantares de Santa Eulália, Sérgio Cerqueira e Banda Alta Mente – e os jovens italianos e alemães subiram ao palco para ensinar a cantar e dançar músicas tradicionais de cada país.
Maias pelo mundo
Entre as dezenas de atividades organizadas em articulação com Associações e grupos locais, como o passeio de LandRover com os Landmaníacos de Albergaria ou a sessão de concertinas com a União Desportiva de Mouquim, os jovens acolhidos pela freguesia da Branca foram desafiados a dançar uma modinha de folclore com o Grupo Etnográfico Memórias e Tradições (GEMT) enquanto faziam uma rosa de tecido para compor uma grande Maia, a peça decorativa em forma de aro, típica da freguesia.
“Foi muito bonito porque todos participaram, não houve ninguém a dizer que não sabia fazer ou a não querer entrar no momento. Foi emocionante ver como uma tradição da Branca chegou a estes jovens e fica como símbolo da JMJ e da sua passagem pela freguesia. É uma peça com grande simbolismo porque representa a união entre tudo isto – no centro da Maia está o símbolo da Jornada e daí saem raios de luz, onde cada um assinou o seu nome”, recorda Rosa Vieira, presidente do GEMT.
No final, cada visitante levou consigo uma pequena Maia, para atar à mochila, feitas pelas mãos do Memórias e Tradições, decoradas em tons de vermelho e verde, com pequenas rosas, tal como a Maia feita em grupo, levada pelos jovens alemães à Igreja da Branca, durante a Eucarística, momento em que foi explicado o simbolismo da peça.
O padre que acompanhou os jovens ficou com a desafiante tarefa de, “se possível, porque sabemos que é muita gente a tentar o mesmo”, reforça Rosa Vieira, entregar uma das pequenas Maias ao Papa, na JMJ.
































