O Jornal de Albergaria entrou em contacto com todos os presidentes de Junta de Freguesia do concelho para um olhar mais próximo do terreno. O balanço feito pelos autarcas, cuja atuação foi elogiada pela Proteção Civil e Município de Albergaria, tem o peso da experiência vivida e um balanço inicial – não final – dos danos provocados pelo fogo.
Esta informação surge em complemento da já avançada pelas fontes acima referidas e noticiada pelo JA. As entidades deram conta, até agora, de danos em: 11 empresas, dois centros de automóveis, mais de 40 casas e o turismo de habitação Vila Francelina, em Frossos.
O levantamento do património e bens destruídos será feito ao longo das próximas duas semanas, com a colaboração da população e articulação entre todos os departamentos da Câmara Municipal.
ALBERGARIA-A-VELHA E VALMAIOR
Jorge Lemos, presidente de Albergaria-a-Velha e Valmaior, dá conta de danos um pouco por toda a freguesia. O autarca informa que arderam “muitas casas de primeira habitação – ainda não sabemos quantas”, inúmeros anexos, mais de metade dos passadiços de Albergaria-Valmaior.
A antiga Fábrica de Papel de Valmaior foi igualmente atingida pelas chamas, mas o autarca assegura que os danos não são problemáticos e os futuros trabalhos de reparo para o Museu dos Recursos Hídricos serão suficientes para preservar o edifício. “A freguesia foi toda afetada, de Vila Nova de Fusos a São Marcos. Estamos agora a fazer um levantamento dos danos e das necessidades mais urgentes da população”, indica.
ALQUERUBIM
O dia de ontem, 17 de setembro, foi crítico para Alquerubim. António Duarte, presidente da Junta, lembra que pela manhã o fogo assolou o Fial e à tarde atingiu fortemente o lugar de Paus, o ponto do concelho dado como mais preocupante, na altura, pela Proteção Civil. O autarca dá conta de danos “em terrenos, pinhais, madeiras e um pequeno curral” e louva a não afetação de habitações.
ANGEJA
Em partilha com a freguesia vizinha, Hélder Brandão, presidente da Junta de Angeja, dá nota da destruição parcial dos passadiços Frossos-Angeja. No geral, por agora, a freguesia conta com cerca de uma dúzia de casas ardidas, 3 armazéns agrícolas “onde ardeu todo o conteúdo – feno, palha, lenha, tratores, reboques…” e inúmeros anexos atingidos pelas chamas. O autarca deu igualmente nota da morte de galinhas, porcos e ovelhas.
O lugar do Fontão foi fortemente afetado pelas chamas, tendo uma das duas vítimas mortais sido registada na aldeia. Fontão é uma das quatro aldeias do concelho abrangidas pelo programa ‘Aldeia Segura, Pessoas Seguras’. Vila Nova de Fusos, Vilarinho de São Roque e Carvalhal são as restantes e também arderam.
A antiga Escola Primária do Fontão “que estava a ser restaurada para que a população e associações locais pudessem usufruir do espaço como zona de lazer e convívio” ardeu. O telhado recém-renovado ficou destruído.
A zona das Marridas foi outro grande foco de incêndio na freguesia. As chamas chegaram igualmente ao centro da vila, aproximando-se da Fundação Creche Helena Albuquerque Quadros.
BRANCA
Nobrijo, Casaldima, Fradelos e Samuel foram os lugares mais afetados pelas chamas, informa Carlos Coelho. Na freguesia faltou água em momentos críticos e a chegada dos Bombeiros foi demorada. “A Branca começou a arder pelas 6h da manhã de segunda-feira e o primeiro carro de Bombeiros que apareceu foi às 17h. A população tem sido extraordinária. Estou eternamente grato ao povo da Branca. Só quem viu o desespero das pessoas perante a falta de água é que sabe o quão difícil foi. Como presidente da Junta e em nome do executivo, agradecemos imenso”, disse o autarca.
João Oliveira, coordenador municipal da Proteção Civil, questionado pelo JA sobre a situação crítica, responde: “Os meios estiveram na Branca e em Ribeira de Fráguas desde a primeira hora porque foi lá [Telhadela, Ribeira] que o fogo começou. O presidente da Junta de Freguesia da Branca esteve extremamente empenhado no terreno e há que reconhecer isso. O que pode ter acontecido é que houve a perceção de que os meios não existiam porque não estavam na sua proximidade. É verdade que reduzimos os meios que estavam na Branca para combater o fogo que veio de Sever do Vouga para dentro da cidade, próximo de muitas casas”.
Carlos Coelho, emocionado, apenas lamenta não ter sido possível fazer mais. “Não temos capacidade de resposta porque as decisões não são tomadas por nós. Compreendo que se trate de uma situação extrema, mas é incompreensível que não se tenha ‘dividido o mal pelas aldeias’. Eu só pedi um carro. É um enorme sentimento de impotência. Lamento à população não ter conseguido ajudar mais”, afirma.
Em relação aos danos oficialmente confirmados, Carlos Coelho dá conta de cinco casas de primeira habitação, um escritório de uma empresa e uma carpintaria. “Há certamente mais danos, mas é o que temos de certo”, acrescenta.
RIBEIRA DE FRÁGUAS
“Foram 48 horas desastrosas, com a perda de praticamente toda a floresta da freguesia. Todos os 20 e poucos quilómetros de floresta foram destruídos”, avançou Henrique Caetano, presidente da Junta de Freguesia de Ribeira de Fráguas.
Em relação ao Parque dos Moinhos, onde estão os engenhos de quem o Rancho Folclórico local toma conta, ainda não se sabe que danos foram, ao certo, registados. A destruição parcial do PR2 – Trilho dos Três Rios foi ontem confirmada ao JA pelo presidente da Câmara Municipal.
Carpintarias, armazéns e edifícios devolutos arderam em número ainda a apurar. As casas de primeira habitação ficaram salvaguardadas. A aldeia de Vilarinho de São Roque esteve em vias de ser evacuada, seguindo o programa ‘Aldeias Seguras, Pessoas Seguras’. Não tendo sido necessária a retirada total da população, foram direcionadas 11 pessoas para o abrigo seguro e 17 com condições de saúde mais frágeis ou mobilidade reduzida para a IPSS local Cediara. “As pessoas foram, desde a primeira hora, a nossa prioridade”, assegurou o presidente.
SÃO JOÃO DE LOURE E FROSSOS
“Os agricultores foram peças centrais para que a situação não fosse ainda pior. Foram horas muito muito duras para toda a gente na freguesia”, relata Ana Maria Bastos, presidente da Junta de São João de Loure e Frossos. Para além dos passadiços partilhados com Angeja, ardeu o emblemático edifício Vila Francelina, com toques de arte nova e atualmente utilizado para fins turísticos.
A lamentar, como noticiou o JA esta tarde, o registo de dois feridos graves na freguesia – a por todos querida Natália de Jesus e o filho Aurélio, que a carregou em braços enquanto fugiam das chamas. Dona Natália encontra-se a receber tratamento em Coimbra e Aurélio em Aveiro.
Ana Maria dá nota, para já, que as chamas consumiram duas casas de primeira habitação – uma delas, de Natália de Jesus – e uma oficina de serralharia, provocando ainda a morte de inúmeros animais.
A presidente da Junta destacou a ajuda da ASIV – Associação Social para Idosos com Vida e da Escola Básica de São João de Loure por abrirem portas à população, proporcionando descanso, comida, bebida e cuidados de higiene básica.