A Assembleia Municipal (AM) evocativa do 25 de Abril, em Albergaria-a-Velha, teve a particularidade de dar a palavra aos jovens, os quais, com a liberdade permitida pela “Revolução dos Cravos”, fizeram críticas e revelaram preocupações. A Cultura esteve também em destaque, numa sessão em que os políticos locais enalteceram os valores democráticos e apelaram à participação cívica, em defesa do País de Abril.
A sessão extraordinária da AM, evocativa do 25 de Abril, no Cineteatro Alba, começou com dois momentos culturais. O primeiro foi a atuação do Coro d’ Aldeia, de Vilarinho de S. Roque, que interpretou quatro temas, um deles em homenagem a Ti Silva (Silvandíria, já falecida), mulher do povo com o dom de cantar e encantar, qualidade, aliás, extensiva a todo o grupo coral. Foi também apresentada a sinopse do documentário poético “Vou-me despedir do Rio”, de David Gomes e Pedro Cruz.
Mário Branco, presidente da AM, pediu um minuto de silêncio por todos os povos que sofrem com a guerra, em especial o ucraniano, seguido de um aplauso pela Liberdade.
Ao palco enfeitado de cravos, foram chamados, um a um, quatro jovens estudantes, os primeiros a usar da palavra nesta assembleia.
Marco, do Agrupamento de Escolas de Albergaria, Mariana, do Agrupamento de Escolas da Branca, Ana Rita, do Colégio de Albergaria, e Gonçalo (em representação de Luana), da Jobra, leram textos por si elaborados, em que revelaram conhecimentos sobre a História de Portugal, antes e depois do 25 de Abril. Mas, mais do que isso, refletiram sobre os valores da Democracia, mostrando-se gratos por terem crescido num país livre, e revelaram as suas preocupações quanto ao futuro. Ouvimo-los criticar as “retóricas xenófobas” e protestar contra o oportunismo e a falta de oportunidades, num país em que a juventude tem que emigrar para conseguir viver condignamente. “É altura de nos revolucionarmos de novo”, disse uma das jovens.
“Temos futuro”
Fortemente aplaudidos, os alunos foram elogiados, no final, por Mário Branco, presidente da AM: “Temos jovens, temos opinião, temos crítica, temos vontade. Isto é a prova de que temos futuro”.
Seguiram-se as intervenções dos eleitos municipais, começando por Firmino Ruas, da bancada socialista, que começou por considerar que, depois das intervenções dos jovens, “tudo o que dissermos será muito pouco”. O deputado referiu a guerra da Ucrânia e as mulheres que vivem em países que não lhes permitem ter quaisquer direitos, e falou sobre o legado democrático dos capitães de Abril, que é preciso defender. “Há que estar atento às novas forças que o perturbam. Não Passarão!”, exclamou, indignado com a existência de discursos xenófobos e racistas, 49 anos depois da “Revolução dos Cravos”.
Finalizando com um olhar local, disse ser necessário “dar o salto na qualidade de vida”, sem a restringir à cidade, e sem que Albergaria seja “só por uns dias, uma cidade com vida”, numa alusão ao Albergaria ConVida.
João Almeida, da bancada do PSD, lembrou o facto de Portugal ter tido o regime autoritário mais longo do mundo, pelo que “devemos honrar a memória dos que lutaram para que hoje sejamos um país democrático”. O eleito social-democrata falou do impacto das redes sociais, onde a liberdade de expressão ganha, por vezes, dimensões abusivas “com efeito bola de neve”, que leva à radicalização de opiniões. “O Estado Novo durou 48 anos, pelo que a Democracia, já com 49 anos, tem agora mais idade que aquele”, fez notar, concluindo que os valores democráticos implicam “compromisso” por parte de todos.
Pedro Rebelo, da Bancada do CDS, apontou o dedo à profissionalização da política, ou carreirismo, considerando que esse tipo de conduta conduz à descredibilização dos partidos e ao decréscimo de confiança nas instituições democráticas por parte dos cidadãos. Defendeu uma “cultura de diálogo e respeito”, pois “a abertura a pensamentos diferentes é o que carateriza a Democracia”, e apelou a uma cidadania consciente, para combater a demagogia e a retórica carregada de preconceitos.
Fixação de jovens
O presidente da Câmara Municipal começou por referir que ainda há um longo caminho a percorrer para que a justiça social e outros ideais de Abril se cumpram, e realçou que a democracia é um “processo contínuo que requer vigilância”, de forma a “garantir que os interesses da comunidade estão acima de interesses pessoais”. Em seguida, António Loureiro falou sobre a estratégia do Município para os próximos anos (“Albergaria 2030”) e sobre os investimentos na saúde, na educação, e na sustentabilidade. Frisando que “a fixação de jovens é fundamental”, disse que a habitação e o emprego são uma prioridade, mostrando-se confiante nas novas empresas que, em breve, serão instaladas na zona industrial, as quais irão criar mais postos de trabalho.
Cuidar da “herança”
A finalizar o período das intervenções políticas, Mário Branco fez o diagnóstico e apresentou a terapia: “A nossa democracia está adoentada. Tem cura? Tem. A cura não é as nossas queixas, é a nossa intervenção cívica”.
Para o presidente da Assembleia Municipal, “não pode haver liberdade e democracia sem o exercício da cidadania”, pelo que apelou ao voluntariado, ao associativismo e à participação política, independente ou partidária. “A democracia é como uma herança. Se não for cuidada, alguém vai querer apropriar-se dela, e pretendentes não faltam”, enfatizou.
A AM finalizou com o Hino Nacional, interpretado pela Banda Filarmónica de Ribeira de Fráguas, num programa que colocou em destaque a freguesia do concelho com menor número de eleitores – Ribeira de Fráguas. O presidente da Junta de Freguesia, Henrique Caetano, disse ao Jornal de Albergaria, que se sentia “grato e muito orgulhoso pela adesão de todas as associações de Ribeira de Fráguas às comemorações do 25 de Abril, e, mais ainda, por elas terem sentido a importância do dia em causa”.
A Sessão Extraordinária da AM incluiu ainda um momento musical pelo Chill Out Blues – Pascoal Pires e César Oliveira. No primeiro piso do Cineteatro, foi inaugurada e a exposição fotográfica “Memórias da Aldeia”, de Jorge Bacelar.
Mariana, aluna Ana Rita, aluna Marco, aluno Gonçalo, aluno Mesa da Assembleia Municipal Mário Branco, presidente da AM António Loureiro, presidente da Câmara Firmino Ruas (PS) João Almeida (PSD) Pedro Rebelo (CDS-PP) Coro da Aldeia de Vilarinho S. Roque Pascoal Pires e César Oliveira Banda de Ribeira de Fráguas Jorge Bacelar, exposição de fotografias