A bancada do PSD afirmou que “Albergaria-a-Velha está hoje mais pobre, menos progressista e menos competitiva em relação aos concelhos vizinhos”, apontando falhas no âmbito do dinamismo da “cidade-dormitório”, saúde e educação. O presidente da Câmara respondeu com dados económicos e investimentos realizados nas respetivas áreas.
A última reunião de Câmara aberta ao público antes das eleições teve lugar no passado dia 2 de outubro. A bancada da oposição, na voz de Pedro Pintor, lamentou o que considera ser uma estagnação do concelho de Albergaria-a-Velha por inação do executivo nos últimos 12 anos, sobretudo a comparar com as redondezas.
“A verdade, por mais dura que seja, é esta e é objetiva: Albergaria-a-Velha está hoje mais pobre, menos progressista e, por isso mesmo, menos competitiva em relação aos concelhos vizinhos. Hoje poucos querem cá ficar e poucos para cá querem vir: quer seja para viver, para trabalhar ou mesmo visitar. A nossa terra perdeu atratividade, perdeu ambição e, por consequência, perdeu dinamismo”, afirmou Pedro Pintor.
Como exemplos, o eleito pelo PSD listou: ausência de praias fluviais que aproveitem o privilégio da localização natural do concelho e sejam capazes de dinamizar as freguesias mais rurais; falta de um polo de Ensino Superior focado na atividade da Zona Industrial; incapacidade de aplicar fundos na requalificação do parque escolar e falta de atratividade cultural.
Neste último, Pedro Pintor afirmou ter-se destruído “a essência” do Albergaria Convida; um Festival do Pão “que, hoje, acolhe mais transeuntes, em vez de valorizar a produção local”; um Cineteatro Alba que “quase morreu” e o fim da “magia do Lugar das Cores, quando os concelhos vizinhos optaram por utilizar a época natalícia para potenciar a economia local e levar alegria a toda a gente”, nas palavras do próprio.
Polo universitário
António Loureiro, presidente da Câmara Municipal de Albergaria, acusou o vereador do PSD de “falta de memória”.
Em resposta, em relação aos investimentos feitos no parque escolar, o edil referiu a construção de três CTEs – Centro Tecnológico Especializado; requalificação da Escola Secundária, construção de quatro salas na Escola da Avenida; ampliação do Jardim de Infância de Albergaria-a-Nova; e reabilitação dos estabelecimentos de ensino de Fradelos, Laginhas, Santo António, Cruzinha e Sobreiro.
Sobre a construção de um polo universitário do concelho, Catarina Mendes, vereadora da Educação, explicou que, segundo a auscultação feita à população através de mecanismos municipais como o Conselho da Educação e o Fórum da Juventude, “poderá não ser a maior necessidade que temos, neste momento, para a educação”.
A vereadora explicou que a maioria dos jovens, quando termina o Secundário, deseja “dar asas à sua vontade de conhecer e viver” fora do concelho. Para além disso, Catarina Mendes reforçou que a ausência de um espaço físico ligado ao ensino superior não equivale à falta de envolvência da academia com os estudantes do concelho – dando como exemplos desta ação a participação das universidades de Aveiro e Porto em iniciativas ambientais do concelho e a de Coimbra em trabalhos relacionados com Ação Social.
Saúde e Indústria
Pedro Pintor, sobre a Zona Industrial, apesar de reconhecer o aumento e dinâmica conseguidos, afirmou que “as grandes e boas empresas não se encaixam no modelo de governação, entenda-se loteamento, promovido por este executivo”. Pedro Pintor lembrou ainda que foram negadas as propostas da oposição para a redução da componente variável do IRS “mesmo sabendo que o impacto nas contas municipais seria insignificante”.
No campo da Saúde, criticou o uso da USF de Angeja como “porta-estandarte” enquanto acusou de não terem existido soluções para “suprimir as lacunas há muito identificadas, nomeadamente na Freguesia da Branca”, onde afirma que “muitas pessoas continuam sem médico de família, o telefone parece sempre ocupado ou desligado e as pessoas continuam a acampar à porta e mesmo assim esperam meses por uma consulta”, descreveu.
António Loureiro, em relação à Zona Industrial, afirmou que foi graças à alteração do Plano Diretor Municipal (PDM), feita pelo atual executivo, que a expansão da área para ampliação permitiu a captação de investimento privado no valor de 200 milhões de euros e a criação de três mil postos de trabalho na última década. “Vocês não mexeram um metro quadrado na Zona Industrial, não investiram lá 1 euro e também estiveram aqui 12 anos”, ripostou o presidente da Câmara.
“Não se pode dizer que as pessoas estejam mais pobres em Albergaria, pelo contrário. Houve um aumento de rendimento, na última década, de 31.31%. Albergaria cresceu, per capita, três vezes mais que a média Região de Aveiro (NUT III) e duas vezes mais que a região Centro”, acrescentou o edil. António Loureiro referiu ainda o crescimento de 20% no número de empresas instaladas no concelho, desde o início dos 12 anos de mandato.
Sobre a Saúde, Catarina Mendes explicou que a falta de profissionais é um problema nacional ao qual o concelho não é imune e lamentou a condição de espectador a que o Município esteve sujeito “enquanto se verificava precariedade nas instalações, assimetrias entre a população e dificuldade de acesso a consultas”.
A luta para “reorganizar o concelho” continua, sobretudo a Norte, onde, apesar das “instalações condignas e muito dignas” continuam a faltar médicos, quer construir-se um polo em Ribeira de Fráguas para apoiar o funcionamento do Centro de Saúde da Branca (UCSP), como acontece a Sul do concelho com o polo de Alquerubim a funcionar como braço do Centro Médico de Angeja (USF Beira Vouga). “Estamos a fazer o que nos compete e o que podemos”, sintetizou Catarina Mendes.
Preço da água
Pedro Pintor lembrou ainda que foram negadas propostas da oposição para redução da componente variável do IRS “mesmo sabendo que o impacto nas contas municipais seria insignificante”; e que nada foi feito perante o aumento do preço da água pago pelos albergarienses.
António Loureiro respondeu que foi graças à ação da Associação de Municípios do Carvoeiro-Vouga, de que Albergaria-a-Velha faz parte, que a água não subiu o dobro. Sobre os impostos, em resposta às críticas sobre a participação variável do IRS, o presidente afirmou que o IMI foi reduzido para 0,3% e afirmou ter “deixando do lado das empresas e famílias 13 milhões de euros” provenientes de impostos, ao longo dos 12 anos – e estão a fazer uma bandeira por 157 mil euros de IRS”, afirmou o edil.
Pedro Pintor respondeu que “muitos dos dados apresentados são uma via alternativa para o que está à vista de todos: este executivo não teve estratégia, funcionou no apoio imediato, a pensar nas eleições a seguir”, nas palavras do vereador do PSD.
Pedro Pintor afirmou reconhecer a obra feita, como fez a bancada em vários momentos do mandatos – em ações como a criação de zonas de centralidade nas freguesias e a criação do CROAA: Centro de Recolha Oficial de Animais de Albergaria-a-Velha – mas, para 12 anos, foi pouco, disse.
“Albergaria é um dormitório, não há vida no centro da cidade. Diz que investiu no Torreão e ele está fechado quase todo o ano. Investiu no Centro de Saúde [de Albergaria] mas todos conhecemos os problemas – não é a nossa competência, mas é nossa responsabilidade unir IPSS e o setor social para responder. Não houve rumo, nem houve estratégia para o concelho. Perdemos oportunidades, desperdiçámos fundos e sinto que parámos no tempo”, sintetizou Pedro Pintor.
Mágoas passadas
A quase nula utilização das bicicletas partilhadas, na ótica de Pedro Pintor, e as recentes inaugurações por parte do executivo foram igualmente tema na sessão – bastante mais longa que o habitual.
“Este final de mandato fica marcado pelo descerrar de placas de algo que nada mais é que uma mão cheia de nada, porque se trata, apenas, de um pavilhão/armazém vazio. Sim, conseguiram, inacreditavelmente, dizer que inauguraram as “futuras instalações” de algo que ainda ninguém sabe bem o que é ou que poderá ser. Se isto não é desespero, é pelo menos ridículo”, criticou Pedro Pintor.
Sandra Almeida, vereadora do Ambiente, negou a falta de utilização das bicicletas e reforçou o que foi feito no pelouro nos últimos 12 anos: reforço no lixo reciclado e ecopontos, criação de duas hortas biológicas, aposta na compostagem, criação de percursos pedestres homologados, construção e atual dinâmica do Centro de Interpretação da Pateira de Frossos – sobre este último, Sandra Almeida criticou o presidente da Câmara que governava quando a vereadora era presidente da Junta de Frossos, por ter recusado a doação do espaço.
Em relação a tempos passados, houve igualmente queixas pela forma como o executivo do PSD da altura tratava os presidentes da Junta e elementos da oposição. Ouviram-se queixas de recusas de atendimento por parte de funcionários da Câmara, com alegadas ordens para tal; e proibição de entrada no edifício da Câmara.
Pedro Araújo, vereador do PSD, lamentou o ocorrido e lembrou que os tempos mudam e as pessoas também. “O uso do ‘vocês’ não é o mais adequado. O ‘vocês’ de há 15 anos não somos nós. Nós, agora, como têm verificado, fazemos uma oposição que colabora, apresenta propostas e, naturalmente, discorda”, afirmou Pedro Araújo.
O vereador lembrou que a evolução natural dos tempos beneficia sempre análises a 12 anos e que o “poucochinho” a que se referiu o PSD é uma exaltação sobre o desejo de querer mais para o concelho. “E temos a certeza de que o próprio presidente gostaria de ter feito ainda mais”, terminou Pedro Araújo.