Hoje a Caderneta de Cromos não viu História a acontecer. Em vez disso, viu Marrocos provar do seu próprio veneno contra uma França que tem argumentos para mais, mas jogou com o típico pragmatismo. As equipas que jogam bem já não estão em prova.
O jogo foi perfeito para os franceses. Logo aos cinco minutos, Theo Hernandez fez o que mais nenhum jogador neste mundial conseguiu, marcar a Marrocos. Se só isso parecia ser um feito, Marrocos instalou-se no meio-campo ofensivo num verdadeiro assalto à baliza de Lloris. A França estava a fazer aquilo que os marroquinos fizeram contra Portugal, encontrou-se a vencer, meteu tudo atrás e apostou na velocidade dos homens nas alas, no caso Mbappé e Dembele.
Os africanos criaram várias chances para empatar a partida, mas se não era Lloris a defender, era o poste a retribuir a bola, novamente como tinha sido o jogo contra Portugal. Era o sentido literal do feitiço que se virou contra o feiticeiro.
O assalto marroquino continuou na segunda parte, mas sem sucesso algum. Do outro lado, Griezmann e Tchouameni pareciam estar em todo o lado a recuperar o esférico e a entregar aos companheiros da frente. A refrescar as alas, Deschamps colocou Kolo Muani que precisou apenas de dois minutos em campo para fazer o gosto ao pé.
A França volta a estar na final do mundial de futebol e pode revalidar o título de campeão, igualando um feito da Itália, que venceu em 1934 e 1938 e do Brasil, em 1958 e 1962. Do outro lado vai encontrar a Argentina, numa final inédita, mas sem estreantes nestas andanças. A turma de Messi procura o terceiro troféu, tal como Mbappé e companhia.
Marrocos termina o conto de fadas, que ainda pode ter mais um capítulo: vencer a Croácia e ficar em terceiro lugar do campeonato do mundo.
Este foi o mundial das surpresas, desde vitórias históricas na fase de grupos, a decisões emocionantes, dogmas quebrados e uma equipa africana a alcançar, pela primeira vez, as meias-finais do mundial.
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