Caderneta de Cromos #13 | Termina a primeira fase

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epa10344697 Luis Suarez of Uruguay walks off the pitch after the FIFA World Cup 2022 group H soccer match between Ghana and Uruguay at Al Janoub Stadium in Al Wakrah, Qatar, 02 December 2022. EPA/Tolga Bozoglu

O campeão do mundo só sabemos no próximo dia 18. Já sabemos de antemão é que quem quer que seja, não o vai ser totalmente vitorioso.

Drama à portuguesa e lágrimas à uruguaia

Contra todas as expectativas e experiências prévias, no grupo H apenas Portugal conhecia o destino: os oitavos de final. À entrada para a última jornada, a armada lusa desconhecia ainda era em que lugar do grupo ficava, primeiro ou segundo.

O jogo contra a Coreia do Sul, com Paulo Bento na bancada, começou de feição com golo de Ricardo Horta a finalizar uma bela jogada coletiva e a um passe de Diogo Dalot. Apenas Diogo Costa, Pepe, Cristiano Ronaldo e Rúben Neves mantiveram-se no onze inicial em relação ao último jogo. A jogar com segundas opções para este jogo em que podia jogar com dois resultados, Portugal começou muito bem a partida.

Mas, como qualquer equipa portuguesa que se apanhe a vencer por margem mínima, acalmou os ânimos e a Coreia do Sul começou a ter mais protagonismo, graças aos seus rápidos executantes do meio-campo e alas. Os coreanos haveriam de chegar ao empate, merecidamente, através de um canto, ainda na primeira parte.

Na segunda parte nada iria mudar, Portugal com processos muito lentos, acomodado com o resultado que o Uruguai fazia do outro lado. Com a vitória uruguaia, Portugal terminaria em primeiro do grupo, qualquer que fosse o resultado.

Eis que nos minutos finais da partida, o impensável aconteceu. A Coreia chegaria à frente do marcador, impunha a primeira derrota de Portugal, colocava-se em posição de apuramento e eliminava o Uruguai que estava a vencer o Gana.

Do outro lado, o Uruguai fez o que lhe competia. Foi a melhor exibição e resultado que conquistou neste mundial, o que demonstra também um pouco do que produziu nos outros dois jogos. De Arrascaeta, que veio diretamente do banco para o onze inicial, mostrou ao treinador o porquê de merecer um lugar cativo na equipa inicial e fez os dois golos que ajudaram a equipa sul-americana a estar, durante largos momentos do jogo, em posição de apuramento para a próxima fase.

Um final de loucos, mais para os adversários dos portugueses, uma vez que estes mantiveram-se durante os 90 minutos em primeiro lugar do grupo, que acabou por apurar a Coreia do Sul para os oitavos de final.

epa10344697 Luis Suarez of Uruguay walks off the pitch after the FIFA World Cup 2022 group H soccer match between Ghana and Uruguay at Al Janoub Stadium in Al Wakrah, Qatar, 02 December 2022. EPA/Tolga Bozoglu

Suíços de aço e Camarões de ouro

Em igual posição à nossa estavam os nossos irmãos brasileiros. Vencidas as primeiras duas partidas, os comandados de Tite alinharam com segundas opções. Apesar de um jogo em que criaram mais, a equipa parece refém da criatividade e perigo de Neymar as segundas linhas não são de muita confiança para atacar este mundial.

Também nos minutos finais da partida, contra todas as expectativas, Aboubakar, que tinha sido herói diante da Sérvia, vestiu (neste caso até despiu) outra vez a capa de herói camaronês e fez mais um grande golo, desta feita de cabeça, para atribuir a primeira vitória de sempre de uma equipa africana contra o Brasil, em mundiais.

Como até estava um ótimo ambiente, Aboubakar despiu a camisola durante a celebração do golo e, como já estava amarelado, viu o segundo amarelo e a consequente cartolina vermelha. A rir, carismático, o avançado camaronês cumprimentou o árbitro da partida antes de ser ovacionado na sua saída. Os Camarões, apesar de eliminados, saíam em grande deste mundial, com uma inédita vitória diante do Brasil.

No outro jogo do grupo, que iria apurar a equipa que irá defrontar Portugal nos oitavos de final, Sérvia e Suíça protagonizaram um jogo verdadeiramente eletrizante. Os suíços colocaram-se em vantagem ao minuto 20. Seis minutos volvidos, os sérvios chegavam ao empate, para minutos depois operarem a reviravolta. Mesmo em cima do intervalo, Embolo restabeleceu o empate e abriu o mote para no início da segunda parte a Suíça dar a volta e chegar à vantagem.

Nota ainda para o resultado do Brasil, que caso a Suíça tivesse feito outro golo, passaria em primeiro do grupo. Por momentos, o coração brasileiro, e português, tremeu com essa possibilidade.

Era uma vez… o Mundial | Diego Armando Maradona

Este conto podia tratar-se de uma biografia de ‘El Pibe’ Maradona, mas trata-se apenas de um campeonato do mundo onde Diego se fez Maradona e provou ser um, ou mesmo o, dos melhores da história deste desporto tão bonito.

O campeonato do mundo regressava ao México, mesmo tendo sido a Colómbia a vencer a candidatura. Os colombianos desistiram quatro anos antes do mundial ser realizado por exigências da FIFA. O formato voltou a mudar e é aquilo que se assemelha com hoje em dia: fase de grupos seguida de três fases a eliminar. Foram mais três estreantes no México: Canadá, Iraque e Dinamarca. Portugal conseguia a sua segunda presença no mundial, onde havia alguma esperança de uma boa participação, mas o escândalo de Saltillo deitou tudo a perder.

Em 14 golos da Argentina naquela caminhada até ao topo da montanha, 10 tiveram o carimbo do astro argentino: marcou cinco, e deu outros cinco a marcar. A história de “El Dios” começa frente à Itália, na fase de grupos, com um empate. De seguida, nos quartos de final, contra a Inglaterra, o Jogo do Século e um dos melhores, senão o melhor, jogos de sempre da história dos mundiais, Maradona ficou marcado para sempre nesse jogo. Em quatro minutos esteve no pior e no melhor. O primeiro golo é escandaloso até hoje. Com um movimento subtil com a mão, Diego faz o primeiro golo do encontro. Esse golo é até hoje conhecido como “A mão de Deus”.

Ainda que toda a gente saiba que foi com a mão, o golo, na altura, não foi invalidado e, quatro minutos depois, Maradona foi Maradona. Com 12 toques de pé esquerdo, o argentino driblou desde a sua área até fazer golo, passando por diversos adversários ingleses, perplexos com o que estava a acontecer. O “golo do século” como também ficou conhecido, é ainda hoje revisitado por muitos, no jogo que corou Maradona como o grande génio do futebol em estado puro.

Numa final não menos espetacular, a Argentina sagrou-se campeã mundial às custas da Alemanha, num Azteca que levou Maradona às cavalitas com o troféu na mão.

O Caso Saltillo

Um caso polémico com episódios de rebeldia por parte dos jogadores da seleção nacional portuguesa, levou a uma fraca prestação no seu segundo mundial de sempre. Naquela altura não era nada fácil haver Portugal nos palcos mundiais, e nesse ano de 1986 esteve nesses palcos por más razões.

A geração que fez um bom desempenho no Euro 1984, disfarçava o que aí vinha. Vários episódios de ociosidade, festas e má preparação dos jogadores levou à suspensão de diversos destes a seguir ao mundial. Liderados por um jovem Paulo Futre, os portugueses até começaram bem a campanha com uma vitória por 1-0 diante da Inglaterra. Mas os problemas já estavam instalados e essa vitória foi só fruto do acaso. A lesão de Bento, que viria a terminar a carreira na seleção ali, e as derrotas frente à Polónia e Marrocos valeram a curta experiência mexicana aos portugueses. O escândalo da convocatória par ao mundial também não ajudou à festa. Veloso acusou positivo nos testes anti-doping, e a coisa descambou a partir dali.

Fotos: DR