Museu da Água anunciado sem pouso na posse da Câmara. Autarquia assegura que projeto não está comprometido.

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A Fábrica de Papel de Valmaior está em vias de regressar à Câmara Municipal, estando ainda na posse de uma IPSS local devido a um acordo com validade de 50 anos, que será revogado. António Loureiro, presidente da autarquia, explicou, questionado pela oposição, que a IPSS será ajudada pelo Município na compra de um outro imóvel e, em troca, o espaço da Fábrica será “recuperado” para a Câmara com vista à construção do futuro Museu e Arquivo Histórico dos Recursos Hídricos.

Na Assembleia Municipal de sexta-feira, 26 de setembro, a última antes das eleições autárquicas, na votação do ponto “Apreciação e votação da Modificação ao Orçamento (4ª Revisão) e às Grandes Opções do Plano (4ª Revisão) do Orçamento Municipal do Município de Albergaria-a-Velha para 2025”, o executivo CDS-PP foi questionado pela oposição PSD sobre o conteúdo da alínea.

António Loureiro, presidente da Câmara Municipal, explicou tratar-se de um apoio de 600 mil euros à APPACDM de Albergaria-a-Velha para “o investimento importante que está a fazer”, um projeto que requer um custo total de 3,5 milhões de euros para ampliação do Lar e construção do novo Centro de Atividades, uma obra falada já em 2023, no aniversário da IPSS.

“O projeto só agora começou e, por isso, só agora vem aqui inscrito. Sabemos a importância que tem o serviço que prestam e a falta de resposta que existe na área. Sem este apoio será muito difícil fazer este projeto. Os Governos passam e continua a faltar ajuda. O Município está a substituir o poder central”, criticou o edil.

Para além disso, o ponto incluía ajudas à ProBranca e AHMA – Associação Humanitária Mão Amiga, na sequência de apoios aprovados para projetos das respetivas associações, condição que a autarquia tinha estabelecido para atribuir financiamento camarário.

Os valores foram avançados por António Loureiro em resposta a Sara Vinga da Quinta, da bancada da oposição (PSD). A eleita pelos sociais-democratas lamentou que “estes investimentos não venham em rubricas individuais a Assembleia Municipal para debate”.

Museu em risco?

Neste tópico encontrava-se igualmente a aprovação de 540 mil euros (num projeto que totaliza os 2,2 milhões de euros) para o Centro Social Paroquial de Santa Eulália de Vale Maior para a aquisição de um novo imóvel e investimento adicional que permita “expandir o projeto da IPSS” e assegurar qualidade do serviço.

Em troca, a instituição devolverá a posse da antiga Fábrica de Papel de Valmaior à autarquia, que está na posse da IPSS por um acordo de cedência com validade de 50 anos, “feito por outro executivo”. Se as obras no novo edifício não forem feitas nos próximos 20 anos, “o imóvel reverte para o Município”, detalhou o edil.

“Necessitamos de recuperar aquele imóvel [Fábrica de Papel] para avançar com o Museu e Arquivo Histórico dos Recursos Hídricos. Esperamos que este Governo cumpra com o acordo de parceria que fez connosco para o projeto avançar”, acrescentou António Loureiro. O futuro Museu, como já noticiado, é um projeto que visa albergar todo o arquivo nacional da APA – Agência Portuguesa do Ambiente, tornando-o único no país. De momento, parte do vasto arquivo da Agência, espalhado por vários pontos do território, já se encontra em Albergaria, nos armazéns da antiga SCARP.

Sara Vinga da Quinta questionou se o novo acordo para a recuperação da Fábrica havia sido feito antes ou depois do anúncio do Museu. António Loureiro respondeu que confia na IPSS como “pessoas de bem” e reforçou que o apoio da autarquia para o novo imóvel só será atribuído “quando, na escritura, estiver explícito que vão libertar este ónus para o Município”.

“O que eu retive das suas palavras é que o Município anunciou o Museu da Água, com pompa e circunstância, para um espaço que não tem na sua posse, que ‘não está recuperado’ para utilizar a sua expressão. Isso é claro como a água”, afirmou Sara Vinga. Loureiro negou a afirmação e informou que a necessidade foi detetada de início e as conversas com a IPSS foram tidas atempadamente. “Há mais nuance do que isso”, disse o edil, acrescentando que o PSD “deveria preocupar-se em apoiar estas associações”.

O PSD absteve-se na votação, tendo o ponto sido aprovado por maioria. Sara Vinga, ao ler a declaração de voto, explicou: “Isto não é uma manifestação contra qualquer apoio a qualquer associação; mas, de forma global, àquilo que é a condução das prioridades e decisões que têm sido tomadas por este executivo”, reforçou.

António Loureiro indicou, como já tinha dito em entrevista ao Jornal de Albergaria, que o Museu “não é um problema do Município”, argumentando que a necessidade e interesse de albergar o arquivo em condições adequadas é da APA e não da autarquia. O edil acrescentou que, apesar da total confiança no acordo com a IPSS, “o Museu e o Arquivo seriam feitos noutro espaço, se fosse necessário”. A localização do futuro Museu foi anunciada em setembro de 2023, em reunião de Câmara e os detalhes do projeto apresentados na Biblioteca Municipal em março de 2024.