Caderneta de Cromos #20 | Final de loucos causa choque

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Como se já não bastassem as várias surpresas ao longo da fase de grupos e mesmo dos oitavos de final, esta segunda fase a eliminar parece querer causar ainda mais choque. Mesmo a abrir, o Brasil despediu-se com um final de loucos, e a Argentina por pouco não teve o mesmo destino.

Livakovic mandou o hexa para casa

No primeiro dia de quartos de final houve choque. A Croácia eliminou o forte candidato Brasil e é a primeira semi-finalista do mundial do Qatar.

Até foi o Brasil quem mais mandou no jogo, mas Livakovic fez um pacto com uma entidade sobrenatural para defender tudo o que lhe aparecesse à frente. A maior vítima foi Neymar, que em quatro remates viu todos a serem devolvidos pelo guardião croata.

O jogo caminhou até ao prolongamento, onde no final da primeira parte, o mesmo Neymar conseguiu, finalmente, abrir o marcador. Após várias combinações, o craque brasileiro rompeu a defensiva, até então bastante sólida, da Croácia e fez o 1-0, e a fazer acreditar milhões de adeptos brasileiros no sonho do hexa.

Eis que a Croácia, já muito batida nesta questão dos prolongamentos e penaltis (só no Mundial 2018 foi a prolongamento em todas as etapas a eliminar, exceto na final) e Petkovic, perto dos 120 minutos, aproveitou um erro da defensiva brasileira para empurrar a decisão para os penaltis.

Aí brilhou Livakovic, que defendeu o primeiro penalti e viu o quarto do Brasil embater no poste, e a eficácia croata que marcou todos os penaltis a que foi chamada. O primeiro choque está dado, num mundial que está a ter muitas surpresas.

A Croácia de Modric vai para a sua segunda meia-final consecutiva em mundiais, a terceira meia-final da sua história na competição. O Brasil vai embora mais cedo, naquilo que é um trágico resultado, e onde sai precocemente de uma competição em que era crónica favorita a vencer… pela sexta vez.

Argentinos vencem em jogo quentinho

A Argentina não se deixou surpreender, tal como aconteceu com o Brasil no jogo anterior. Numa primeira parte muito amarrada, foi o génio de Messi que desbloqueou o caminho para vitória da albiceleste diante dos Países Baixos.

A segunda parte foi mais mexida. Os neerlandeses atacaram mais e tentaram chegar ao empate, mas deixavam espaços atrás, o que tornava os contra-ataques argentinos perigosos, sempre com Messi a conduzir a equipa. O 2-0 chegou, de penalti. Leo Messi responsabilizou-se e atirou a contar, colocando a equipa argentina novamente na meia-final do mundial.

Quando já todos previam uma vitória argentina, eis que os Países Baixos ganham nova vida quando Weghorst faz o 2-1 a dez minutos do fim. Tal como acontecera com a Austrália, a Argentina apagou na ponta final do jogo. Ao fim de dez minutos de compensação, através de um livre genial, Weghorst restabelece a igualdade num final de 90 minutos absolutamente louco. O jogo iria para prolongamento, mas já todos pensavam nos penaltis.

Aí, os argentinos foram mais fortes ao apontarem quatro dos cinco penaltis, enquanto os neerlandeses falharam dois, com duas grandes defesas de Emiliano Martínez. Ainda não foi desta que os Países Baixos se vingaram da Argentina, numa maldição que parece querer durar.

Era uma vez… o Mundial | O tetra germânico com humilhação ao anfitrião

O Mundial do Brasil é um tanto esquecível, salvo alguns jogos e equipas sensação. O anfitrião recebia o campeonato do mundo pela segunda vez depois de 1950, com esperanças de fazer melhor do que nessa vez (perdeu a final com o Uruguai quando bastava um empate), mas saiu de cena mais cedo e de pior forma.

A Alemanha, por fim, venceu e convenceu neste campeonato do mundo. No Brasil não esteve para brincadeiras e cilindrou o anfitrião nas meias-finais. Antes disso, goleou Portugal na abertura do grupo, e passou em primeiro lugar. A Argélia de Brahimi e Slimani (na altura a atuarem em Portugal), revelou-se osso duro de roer, mas os germânicos cerraram os dentes e venceram no prolongamento, para marcar encontro com a França nos quartos de final. Com apenas um golo, a Alemanha chegou às meias-finais onde aplicou chapa sete ao Brasil. Sem Neymar, lesionado, e Thiago Silva, suspenso por amarelos, o Brasil nunca imaginaria o pesadelo que ia viver naqueles 90 minutos. Aos 20 minutos já estava 5-0, e os brasileiros não queriam acreditar. A imagem de David Luiz a chorar e a pedir desculpa a toda a nação brasileira é uma das mais marcantes da competição. Na final, a Alemanha venceu no fim, a Argentina de Messi, com golo no prolongamento de Götze. Messi começava assim o calvário de decisões falhadas com a seleção, e mais tarde optou mesmo por renunciar à seleção albiceleste, decisão que reverteu meses depois.

Portugal tem má memória do mundial do Brasil. A caminhada até lá foi épica. Voltou a falhar o apuramento direto, num grupo em que ficou atrás da Rússia, e jogou o playoff de acesso com a Suécia de Ibrahimovic. Um autêntico duelo de titãs, com ambas as estrelas das equipas a brilharem. Cristiano arregaçou as mangas e marcou três golos na Suécia para levar Portugal até ao Brasil, mas o mundial seria para esquecer. Ganhou apenas um dos três jogos na fase de grupos, e mesmo essa vitória frente ao Gana foi sofrida. A derrota clara diante da Alemanha logo no primeiro jogo mostrava aquilo a que a equipa das quinas ia fazer ao Brasil.

O Brasil 2014 foi também palco dos contos de fadas de Colômbia e Costa Rica, num torneio em que as equipas americanas se superaram, claramente. Ambas chegaram aos quartos de final, James Rodriguez foi o comandante do sonho colombiano, e fica marcado como o goleador da competição, com um golo de belo efeito contra o Brasil. A Costa Rica apostou tudo em Keylor Navas, guarda-redes que viria a ter a sua vida completamente mudada a partir desse mundial. Só caiu diante da, na altura, Holanda, num jogo que teve van Gaal protagonizar uma das melhores e mais inusitadas substituições da história. A adivinhar que o jogo ia a penaltis, o técnico neerlandês troca o guarda-redes para a ocasião. Tim Krull foi chamado e respondeu muito bem, ao defender dois penaltis costa-riquenhos.

A campeã em título Espanha caiu com estrondo. Logo no jogo inaugural, quis o destino colocar as equipas que jogaram a final quatro anos antes no mesmo grupo. Desta vez a vingança servir-se-ia fria para os espanhóis. Numa noite espetacular e avassaladora por parte da laranja mecânica, os Países Baixos golearam os espanhóis por 5-1, com direito a um ‘slalom’ de Robben e um voo para a eternidade de Van Persie.

Fotos: DR