Casa cheia para imaginar território mais leve, com menos carros e muita pedalada

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O Plano de Mobilidade Urbana Sustentável foi construído em comunidade. As propostas consideradas prioritárias pela população serão voz ativa na elaboração do programa final. Redução de carros, aumento de passeios – em Albergaria-a-Velha e Valmaior 47% do território não tem passeios e na Branca são 64% – mais autocarros e soluções para a circulação de pesados estiveram no centro de conversa.

“O vosso sentido crítico é o que nos alimenta”, convidava António Loureiro, presidente da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, dirigindo-se a uma sala com mais gente que cadeiras, juntos para discutir e decidir sobre medidas pensadas para o PMUS – Plano de Mobilidade Urbana Sustentável, para tornar o território mais amigo do Ambiente e interligado sem depender do automóvel.

A rondar as 80 pessoas, a sessão reuniu representantes de coletividades e empresas, presidentes da Junta, cidadãos a título individual, técnicos da Câmara Municipal, GNR, Proteção Civil e a representante da ANSR – Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, entre outras entidades.

O Plano apresenta-se para aplicar a 10 anos, com revisões a cada dois anos para avaliar e adaptar estratégias. O sumo do PMUS partiu de “um profundo estudo” por parte da equipa da OPT – Optimização e Planeamento de Transportes, parceira da autarquia neste projeto de 49 ações.

Caminho feito e por fazer

Sendo o PMUS destinado a áreas urbanas e contando estas duas freguesias com o recorde para o uso de automóvel, o Plano será implementado na Branca e em Albergaria-a-Velha e Valmaior. O espaço de intervenção direta abrange 18 km2 e 13 mil habitantes. No entanto, em tudo o que é aplicável, a mudança será sentida em todo o território concelhio.

Antes da apresentação, António Loureiro lembrou o trabalho feito no âmbito da mobilidade leve. O edil nomeou projetos como o MOBA, programa com 17 anos que coloca a bicicleta no centro da mobilidade urbana; os polémicos 3 km de ciclovia na cidade, segundo o próprio, fruto das maiores críticas que recebeu em 12 anos de mandato.

O presidente referiu ainda o Albus, sistema de autocarros criado durante a pandemia para oferecer alternativa de transporte às zonas mais periféricas e o bom exemplo dado por “alguns funcionários da Câmara que usam bicicleta para serviços diários ou para ir almoçar”, elogiou António Loureiro.

Ainda assim, de 2001 a 2021, os Censos indicam que cada vez mais se utiliza o automóvel. Em Albergaria (concelho), o uso de carro passou de 73% para 79%. A estatística nacional contabiliza apenas as deslocações Casa-Escola/Trabalho. Para António Loureiro, a importância do PMUS é ir além do que já está feito, ciente de que melhor mobilidade é sinónimo de uma cidade mais inclusiva.

Eixos programáticos

As 49 medidas iniciais foram apresentadas à população que, organizada em três grupos de trabalho, coincidentes com três dos quatro eixos do PMUS, selecionaram as mais prioritárias. A equipa da OPT que elaborou as propostas contou com o contributo de técnicos formados em geografia, engenharia civil, planeamento urbano e arquitetura.

Circulação, Estacionamento e Logística (16 medidas); Modos Ativos (14 medidas) e Transportes Públicos (11 medidas) foram as temáticas entregues para debate aos habitantes do concelho. “Porque ninguém conhece este território melhor que vocês”, explicou Sandra Vasconcelos Lameiras, administradora da OPT. A população foi igualmente livre de sugerir propostas diferentes das originais.

O eixo Sistema Urbano (8 medidas) ficou fora da discussão, mas será incorporado no PMUS final. A exclusão do debate em grupo foi justificada pela tecnicidade do tema, focado em documentos como o PDM – Plano Diretor Municipal. O PMUS prevê-se fechado já no final do presente mês de junho, com confiança reforçada na data pelo elogio feito à autarquia por parte da OPT, como parceira com quem mais rapidamente elaboraram um Plano de Mobilidade, “graças ao empenho político e técnico” da Câmara, nas palavras de Sandra Lameiras.

Entre as maiores fragilidades identificadas no concelho estiveram pontos como limitações na infraestrutura ciclável; IC2 como barreira à mobilidade, competitividade do carro em relação ao autocarro, com horários escassos e irregulares ao longo da semana, e a falta de condições para andar a pé em segurança: em Albergaria-a-Velha e Valmaior 47% do território não tem passeios e na Branca são 64%.

Resultado quase final

Das medidas apresentadas, cada grupo selecionou três a cinco propostas que considerou de implementação mais urgente, que deveriam ser realizadas nos próximos dois anos. Entre novas propostas e outras já a caminho – como as anunciadas e confirmadas paragens de comboio na Zona Industrial e JOBRA, fruto da requalificação da Linha do Vouga – os grupos falaram sua justiça.

No campo dos Transportes, os cidadãos priorizam a melhoria do que já existe ao invés da aposta na intermodalidade. Assim, as propostas vencedoras foram: campanhas de incentivo à população para o uso de autocarro, reforço da oferta de autocarros BusWay ao final da tarde, maior cobertura do Albus e melhoria das condições e acessos a paragens.

Considerando os avanços feitos no âmbito da bicicleta, o grupo dos Modos Ativos propõe foco nas deslocações a pé, com a criação de um Plano de Promoção da Acessibilidade Pedonal, complementado com o reforço da infraestrutura pedonal nos locais com carências identificadas. A criação de um programa de incentivos municipais a empresas que promovam a mobilidade sustentável junto dos trabalhadores foi outra das propostas.

O último coletivo, dedicado à Circulação, Estacionamento e Logística; divergiu na definição de prioridades e apresentou as duas perspetivas resultantes da discussão. Uma parte valorizou a urgência de implementar medidas de acalmia de tráfego em pontos sensíveis e definição de planos para a circulação de pesados – um problema que afetada sobretudo a freguesia da Branca.

Propuseram ainda campanhas de educação escolar e implementação de sistemas ‘kiss and ride’ – em tradução livre ‘dar um beijinho e ir embora’ – onde a circulação automóvel é limitada e a paragem permitida por 10 minutos, evitando a acumulação de veículos e pessoas junto de locais como escolas ou associações em dias de festa.

Do outro lado, as prioridades passaram pela redefinição da hierarquia viária, a aposta na “Circular Sul” para dinamizar a mobilidade nessa zona do concelho e a criação de um parque TIR. O trabalho feito na noite de quinta-feira será agora incorporado nas conclusões previamente tecidas pela OPT e daí nascerá o PMUS.

“Foi uma discussão útil para todos, saímos daqui mais ricos. Tudo o que foi aqui dito vai ser espelhado no PMUS – este será verdadeiramente um plano de todos para todos”, reforço Sandra Almeida, vereadora do Ambiente e uma das grandes impulsionadoras do projeto, que afirmou ter feito e continuar a fazer pressão junto da OPT para que tudo esteja pronto no final do mês.