Quem diria que após duas jornadas relativamente secantes, com muitos empates, a terceira e última jornada da fase de grupos trouxesse tanto drama e emoção, colocando de fora equipas candidatas ao troféu.
Conto de fadas marroquino contrasta com a pálida participação belga
Marrocos e Croácia estão na fase seguinte do mundial, graças à eliminação do Canadá e da Bélgica. Se o Canadá tinha começado muito bem com uma exibição personalizada frente aos belgas, um lance fortuito deitou por terra o esforço canadiano. Desde esse primeiro jogo, o Canadá nunca mais foi o mesmo e perdeu o segundo jogo com alguma naturalidade contra a Croácia e agora este último contra Marrocos.
Por sua vez, a equipa africana fez história. Não só não perdeu nenhum jogo como, num grupo com Croácia e Bélgica, eliminou uma e passou como líder do grupo. A vitória diante da Bélgica teve tanto de surpreendente como de justiça. Marrocos arrisca-se a ser a maior surpresa deste mundial, só ainda não o é porque vemos equipas como a Austrália e EUA na próxima fase também. No jogo entre Marrocos e Canadá, a equipa marroquina foi superior. Sabia, desde já, que se vencesse estaria apurada, não importava qual era o resultado do outro jogo. Foi o que aconteceu, vitória por 2-1 com Marrocos a apontar os três golos do encontro.

O outro jogo, entre Croácia e Bélgica, foi emotivo até ao fim, mesmo que tenha terminado com um nulo no marcador. Vimos, finalmente, a melhor versão da Croácia, a mandar no jogo, sempre com o maestro Modric a comandar as manobras ofensivas e a mostrar como se defende. A Bélgica só acordou perto do fim, com Lukaku a ter um jogo para esquecer. Foi um festival de desperdício. Numa altura em que a Bélgica atacava com muitas unidades, Lukaku falhou, pelo menos, quatro oportunidades flagrantes para marcar e evitar a eliminação da Bélgica.
A Bélgica figura-se como uma das desilusões deste mundial, e só não é a principal porque a Dinamarca e a Alemanha caíram também sem brilho.

Do céu ao inferno em cinco minutos
Se ao intervalo os dois jogos do grupo E eram completamente irrelevantes, com as vitórias de Espanha e Alemanha, os segundos quarenta e cinco minutos de ambos foi a loucura absoluta. Não só o Japão deu a volta logo a abrir a segunda parte, com o segundo golo a ser salvo pelo VAR (a bola não ultrapassa a linha final por milímetros), a Costa Rica fez algo impensável e também operou a reviravolta contra a Alemanha.

Por breves momentos, tivemos Alemanha e Espanha fora do mundial, com Japão e Costa Rica a serem apuradas. Esse cenário idílico e tirado de um conto de fadas acabou por ser uma mera ilusão, com a equipa alemã a empatar e depois a conquistar a vitória.
Essa vitória foi, no entanto, inútil, pois o resultado do outro jogo deixava os germânicos de fora, pela segunda vez consecutiva, da fase de grupos. O Japão aguentou o resultado até ao fim e passou mesmo em primeiro lugar e vai defrontar a Croácia, enquanto a Espanha vai jogar diante de Marrocos.

Era uma vez… o Mundial|Itália alcança o Tri na Fiesta espanhola
O Mundial de 1982 teve tanto de espetacular como de vergonhoso. Teve jogos memoráveis para o bom e para o mau.
O campeonato de mundo de Espanha significou, antes de mais, um alargamento de equipas e um novo formato. Havia na mesma duas fases de grupos, mas desta vez a segunda fase de grupos antecipava-se à meia-final e depois à final. Estrearam-se países como o Kuwait, Nova Zelândia, Camarões, Argélia e Honduras.
A Itália, que viria a vencer o tri-campeonato mundial e igualar o Brasil em títulos, começou mal, com três empates e nenhum golo marcado. Na segunda fase, contra Brasil e Argentina melhorou e passou em primeiro, ultrapassando a Polónia nas meias-finais antes de vencer a final frente à Alemanha que também buscava o terceiro mundial.
O Itália x Brasil, jogo que terminou 3-2 para a Itália, foi e ainda é considerado dos melhores jogos de sempre de mundiais. Em Barcelona jogavam duas ideologias totalmente opostas de futebol. O pragmatismo italiano, modo de jogo que sempre ficou na memória de todos ao ver os italianos a jogar, contra o futebol bonito, operado por uma boa geração brasileira, com Sócrates e Falcão ao lemo. Ganhou o pragmatismo, com um hattrick de Paolo Rossi, ele que começou mal o mundial e terminou como o melhor marcador.
Do outro lado, a Alemanha começou muito mal, com a chocante derrota diante da estreante Argélia de Rabah Madjer. Depois dessa derrota, fala-se em escândalo no último jogo da fase de grupos. A Argélia venceu o jogofrente ao Chile, e ao saber desse resultado, Alemanha e Áustria jogaram com esse resultado. Ambas passariam se a Alemanha vencesse por um ou dois golos de vantagem. Se houve resultado combinado ou não, não se sabe, o que é certo é que a Alemanha marcou aos 10 minutos e a partir daí ambas jogaram a passo, o que originou um protesto por parte da Argélia. Esse seria o último mundial onde a última jornada da fase de grupos seria jogada em horários diferentes. Desde aí, o último jogo da fase de grupos jogou-se sempre à mesma hora entre equipas do mesmo grupo.
Num outro jogo, desta vez entre França e Kuwait, a França acabou por vencer por 4-1, mas quando fez um dos golos, aconteceu algo inesperado e insólito. Alguém nas bancadas teria imitado o som do apito do árbitro, e isso levou a que os jogadores do Kuwait desistissem da jogada. O golo foi validado e o presidente da Federação de Futebol do Kuwait e irmão do emir daquele Estado, foi, revoltadíssimo, ao relvado. O árbitro, perante tamanha pressão, acabou por invalidar o golo.
Fotos: DR





