Desperdício fora de moda na Semana da Prevenção de Resíduos

O município de Albergaria-a-Velha aderiu, pela terceira vez consecutiva, à Semana Europeia da Prevenção de Resíduos, numa edição dedicada ao impacto ambiental da indústria têxtil. A transformação de roupa esquecida para construir novas peças e a reutilização de tecidos para dar vida a brinquedos estiveram no centro das atividades.

Fios, linhas, tesouras, botões, agulhas e tecidos soltos deram início ao arranque da Semana Europeia da Prevenção de Resíduos no Mercado Municipal. Na manhã de sábado, dia 19, peças de roupa resgatadas foram transformadas em decorações natalícias pelas mãos de Celeste Lemos, Ana Castanheira e Geni Tavares.

“O Município avançou com esta participação e o objetivo é mesmo mostrar que não devemos deitar fora por impulso, sempre com uma preocupação ambiental, mas também económica”, comentou Sandra Almeida, vereadora do Ambiente, ao Jornal de Albergaria. António Loureiro, presidente da Câmara, marcou igualmente presença no workshop de Técnica de Reaproveitamento de Tecidos (patchwork).

A curiosidade de quem passava para ver um cone de cartolina transformado num árvore de Natal feita de retalhos e um Pai Natal com barbas de lã e rosto de roupa velha, juntamente com a convicção de que o lixo está fora de moda, marcaram a pequena aula – à semelhança dos inúmero tutoriais que pode encontrar online. Os mesmos princípios foram transportados para o sábado seguinte, desta vez, pela mão da Donaldeia – Associação de Promoção e Desenvolvimento Rural, num workshop sobre como fazer bonecos com tecidos usados, durante o qual Delmira Gomes, presidente da associação, realçou a importância de “reutilizar os tecidos, para lhes dar uma nova vida, através da sua transformação, neste caso, em bonecas, que são prendas originais para oferecer no Natal que se aproxima”.

Lado feio da moda efémera

“A constante disponibilização de novos estilos a preços muito baixos, levou a um grande aumento da quantidade de vestuário fabricado e deitado fora”, lê-se no website do Parlamento Europeu, num artigo dedicado ao impacto ambiental da moda efémera (fast fashion).

Na peça citada, dados do Serviço de Estudos do Parlamento Europeu de 2019/2020 demonstram que foram utilizados 79 mil milhões de metros cúbicos de água pela indústria têxtil e do vestuário em 2015 – sendo necessários 2700 litros de água para produzir uma t-shirt de algodão, o que equivale a água potável suficiente para uma pessoa beber durante dois anos e meio.

Segundo as estimativas do mesmo grupo e da Association for Educational Assessment Europe, a produção têxtil é responsável por cerca de 20% da poluição da água potável à escala mundial, decorrente da utilização de produtos para tingimento e acabamento. A lavagem de materiais sintéticos é responsável pela libertação nos oceanos de 0,5 milhões de toneladas de microfibras por ano.

A indústria têxtil contribuiu para cerca de 10% das emissões de carbono a nível mundial, valor superior aos voos internacionais e transporte marítimo juntos – cada uma destas indústrias representa perto de 4% das emissões. Segundo a Agência Europeia do Ambiente, em 2017, a compra de têxteis na UE gerou aproximadamente 654 kg de emissões de CO2 por pessoa.

Ao impacto ambiental, acresce a violação de Direitos Humanos na produção de vestuário. O documentário The True Cost – que pode ser visto aqui na íntegra – feito por jornalistas de investigação e/ou ativistas, demonstra as condições de trabalho precárias e os riscos para a saúde que a indústria representa, contrastando o cenário com os lucros de “uma indústria de quase três triliões de dólares anuais” – como se lê no website do documentário.

No âmbito Semana Europeia da Prevenção de Resíduos, o Município de Albergaria lançou uma campanha online de sensibilização para o impacto da industrial têxtil, com publicações sobre a Loja Verde no Centro de Transportes, a importância de ler a rotulagem da roupa, os cuidados a ter com as peças, a reutilização têxtil e o seu destino alternativo. Os posts foram feitos de 21 a 25 de novembro e podem ser consultados nas respetivas redes sociais.