Trabalhador novamente impedido de entrar na empresa

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O operário da Futurvida, empresa de Albergaria, que havia sido suspenso por 30 dias, na sequência de um processo disciplinar, este contestado pelo seu advogado, voltou ao trabalho, findo o tempo da suspensão, mas está novamente impedido de entrar.

“Sinto-me em baixo e perturbado com tudo isto”, disse, visivelmente entristecido, ao Jornal de Albergaria (JA), enquanto aguardava, dentro do carro, por alguma palavra da direção.

É a segunda vez que isto acontece. A primeira foi no final de Agosto, quando regressou das férias de Verão. Então, permaneceu em frente das instalações da Futurvida, manhã e tarde, até ser chamado para uma reunião, na qual lhe foi proposto “um acordo, cujos termos ficariam definidos logo que a responsável pelos recursos humanos voltasse de férias”, segundo disse, na altura, a empresária Delfina Cunha ao JA.

Nessa reunião, foi apresentado um documento que o trabalhador se recusou a assinar, acautelando os seus direitos. Durante dias, José Oliveira continuou a dirigir-se à empresa, não lhe restando outra hipótese se não ficar na rua dentro da sua viatura. Em declarações ao JA, queixou-se de “humilhação e assédio laboral”.

A Futurvida acabaria por o informar, a 5 de setembro, de que lhe iria ser movido um processo disciplinar, “com intenção do seu despedimento, sustentada, entre outros factos, na perturbação do normal funcionamento da empresa e na ausência injustificada ao trabalho”, como se lia na notificação.Consequentemente, o instrutor do processo quis ouvir testemunhas, após o que foi decidido, não despedi-lo, mas, sim, aplicar-lhe uma suspensão por 30 dias, entre 20 de dezembro de 2022 e 20 de janeiro de 2023. O advogado do trabalhador, Bruno da Silva Tavares, considera essa decisão injusta, pois, afirma, “a suspensão sustenta-se numa alegada falta a mais de 10 dias de trabalho, o que não é verdade, pois esses dias correspondem ao tempo de férias”.

José Oliveira, com cerca de 15 anos de serviço na Futurvida, “está sem receber salário desde 5 de setembro, data em que foi notificado do processo disciplinar”, contesta ainda o advogado.

“Não é fácil, tenho uma filha e contas para pagar”, salienta o operário. “Nunca faltei ao respeito a ninguém e só faltei ao trabalho quando estive de baixa médica, quase dois anos, por problemas na coluna. Apresentei sempre os atestados médicos e toda a documentação, e durante esse tempo estive em casa”, afirmou.

No primeiro dia de regresso à empresa, 20 de janeiro de 2023, o operário levava consigo uma carta de despedimento por justa causa, fundamentada na falta indevida de retribuições, também enviada por correio. Hoje de manhã, José Oliveira tentou entrar na empresa junto com os colegas, mas foi-lhe dito que havia instruções superiores para lhe indicar a porta da rua.

Tentámos contactar a empresária Delfina Cunha, mas até ao momento não conseguimos nenhum esclarecimento. Sabemos, porém, que aquela pediu a suspensão de funções enquanto vereadora pelo PSD na Câmara de Albergaria, por “motivos profissionais”.

Sofia Meneses