No mês em que se assinala a prevenção e diagnóstico do Cancro da Mama, de sorriso fácil, olhar profundo e palavras doces, Diana Lopes, de 32 anos, natural da Branca, designer de profissão e criadora por essência, viu a sua vida transformar-se num cenário de luta, medo e esperança. Confrontada com um diagnóstico que ninguém espera receber aos 30 anos e um bebé nos braços, é uma luz para outras mulheres que atravessam o mesmo caminho tortuoso, mas que precisam acreditar que o amor cura, e a força do espírito pode enfrentar batalhas que jamais esperamos travar.
Texto: Beatriz Quaresma
Tudo começou com o aparecimento um pequeno nódulo no peito, quando Diana Lopes foi mãe pela primeira vez. “Era recém-mamã, o meu bebé tinha 18 meses quando me apareceu um nódulo no peito. Estava a amamentar e, na altura, achei que era normal”, contou a jovem branquense confessando que não causava dor, mas “algo me dizia para não o ignorar. O instinto falou mais alto”.
Diana, residente em Pinheiro da Bemposta, sempre cuidou da sua saúde, ” alimentava-me bem, fazia exercício físico”, não tinha histórico familiar de cancro e achou que “não havia nada que indicasse que isto pudesse acontecer comigo.”
A persistência do “bichinho” e da preocupação constante levou-a a realizar uma ecografia, seguida de uma biópsia e foi aí que a vida de Diana mudou. “Tinha o resultado na mão, mas não tive coragem de abrir sem a médica. Eu sabia que dentro daquele envelope estava o meu futuro”, confessou de voz tímida. O diagnóstico de cancro da mama é avassalador, mas para uma mãe, as implicações tornam-se ainda mais difíceis de processar – “o meu primeiro pensamento foi o meu filho. Ele era tão pequenino, precisava de mim.”
Como tantas outras mulheres, Diana viu-se numa encruzilhada onde “inevitavelmente, a primeira coisa em que pensas é na morte”. O cancro pode ser “potencialmente fatal, mas felizmente a medicina tem evoluído muito”, reflete, tentando equilibrar o medo com a esperança. Foi então que decidiu que não deixaria que a doença a controlasse e “depois do choque inicial, a minha postura foi: ‘O que é que eu preciso de fazer para tratar isto?’ “
A coragem de Diana não permitiu que se afundasse no desespero.No mesmo dia em que soube o resultado do diagnóstico procurou aconselhamento médico e, em quatro meses e meio, iniciou um protocolo de tratamento que envolveu 16 sessões de quimioterapia neoadjuvante, seguidas de uma cirurgia, tumorectomia, “que tem como intenção reduzir o tamanho do tumor e qualquer vestígio que tenha ficado”. Para dar o processo como terminado “fiz radioterapia preventiva. Foram 15 sessões”. Felizmente “correu tudo muito bem”, a quimioterapia funcionou. “Após algumas semanas de tratamento, já não sentia o nó, tinha desaparecido”, disse com um misto de alívio e orgulho no olhar- “era um indicador de sucesso do tratamento”. “Eu fui tratada na CUF do Porto, e a rapidez no tratamento foi fundamental. Não queria perder tempo”, contou.
A recuperação física foi apenas parte da batalha. O impacto emocional da quimioterapia e a queda de cabelo, pestanas e sobrancelhas mexeram com a autoestima de Diana – “tu olhas-te ao espelho e não te reconheces. É muito importante trabalhar o amor próprio”, clarificou. A mudança física foi abordada com serenidade, mas a jovem não escondeu a dor emocional por detrás da transformação diária do corpo sublinhando que “o mais complicado é lidar com a perda das pestanas e das sobrancelhas, principalmente, a nós mulheres, porque acaba por definir muito a expressão do rosto”.
De forma descontraída e leve a tricenária soube encontrar a beleza em cada fase da sua luta aproveitando para fazer “o que me fazia sentir bem. Se me apetecia usar uma peruca, usava. Se me apetecia estar careca, também estava. O importante era sentir-me eu, independentemente de como estava fisicamente.”
A abordagem positiva foi um dos seus critérios no combate à doença porque “é incrível como, num momento tão frágil, te sentes mais empoderada do que nunca. Descobres uma força que não sabias que tinhas,” contou com sorriso de orelha a orelha.
A Luta Continua
A designer esteve livre da doença durante sete meses. No início deste ano a sombra voltou a aparecer. Nos primeiros exames de rotina “encontraram algumas células na mama. Estou novamente em tratamento. Continuo a trabalhar, porque é algo que me dá prazer e mantenho a mente ocupada”. Em casa e “com o meu filho, sou honesta, mas tento não o preocupar. É uma luta constante entre gerir a energia e manter a normalidade.”
Para Diana, o futuro é uma incógnita, mas também uma oportunidade -“tento não pensar demasiado no futuro. Aprendi que o importante é viver o agora. Muitas vezes, estamos tão focados em correr atrás de algo que nem sabemos o que é. Temos de encontrar algo bom em cada dia, mesmo nos mais difíceis. Isso gera gratidão.”
“Ouçam o vosso corpo”
A luta de Diana Lopes ainda não terminou, mas o seu testemunho é um grito de alerta para todas as mulheres. A jovem deixa uma mensagem e pede para que “ouçam o vosso corpo. Não é normal ter sintomas físicos, e o corpo fala connosco. Não ignorem os sinais.” A tomada de consciência foi uma das suas maiores lições durante o processo, que lhe revelou a importância de prestar atenção ao que muitas vezes passa despercebido na correria do dia-a-dia. “A qualidade do nosso pensamento influencia a nossa vida. Ter pensamentos positivos, mesmo nos momentos mais sombrios, pode mudar tudo”, reforçou.
A jovem acredita na força curativa do amor, tanto o amor-próprio como aquele que recebemos dos outros, porque “o amor é um processo de cura”, partilha, explicando que a capacidade de nos amar e de receber o amor de quem nos rodeia pode transformar a maneira como enfrentamos a doença.