As casas afetadas pela Linha de Alta Velocidade eram projetadas no ecrã à medida que os lesados se identificavam, levantando o braço. “Olha, a nossa casa”. “É a da Ti Nazaré”. António Loureiro, presidente da Câmara, insiste na importância do envio de participações a advogar pela alternativa menos prejudicial, até dia 13.
“Vamos apresentar a situação nua a crua, olhos nos olhos. Qualquer trajeto é prejudicial para a freguesia”, frisou António Loureiro, presidente da Câmara, no salão da Junta de Freguesia de São João de Loure, na quarta e última sessão de esclarecimento sobre a Linha de Alta Velocidade. O executivo pediu que todos, especialmente os diretamente afetados, se dirigissem ao Município, até dia 13, para apoio no preenchimento da participação em participa.pt.
Delfim Bismarck, vice-presidente da Câmara, detalhou os impactos dos diferentes traçados. No trajeto a nascente da A1 (solução A) a LAV entra por São João de Loure, passa por São Marques, Sobreiro, por trás da Zona Industrial e Soutelo. No percurso construído a poente da autoestrada (solução B), passa por Vale da Silva, por cima de Frossos e no Fontão.
“Na opção A estamos a falar de um viaduto, avistado à direita da A1, de quem vem de Coimbra para Aveiro, com 1,2 km de extensão e 17,5 metros de altura. Na B são 1,9 km de comprimento e 26 m de altura. Em todas as construções, as da opção B são sempre as mais altas e longas”, explica o vice-presidente, argumentando que este é um dos motivos por a opção A ser considerada pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) como mais favorável a termos ambientais e socioeconómicos.
A melhor solução para São João de Loure e Frossos, e para a generalidade do concelho, é a ILBA, uma alternativa apresentada pelo Município albergariense à Infraestruturas de Portugal (IP) e considerada pela APA no estudo de impacto ambiental – que pode ser consultado aqui, em versão resumida – que consiste numa interligação de passagem da opção B para a A, um desvio (ou “bypass”, como tem sido chamado) que resultaria na libertação de Frossos e Fontão da passagem da LAV.
As sessões de esclarecimento foram, como explicou Bismarck, referentes à Fase 1 do projeto final da LAV, que vai de Porto a Soure, com obras a começar em 2025 e a terminar em 2028, com o propósito de construir um meio de transporte que elimine os voos Porto-Lisboa e reduza de forma significativa as viagens de automóvel entre os dois centros urbanos. Os oradores garantiam que, desta vez, o projeto vai mesmo avançar e, estando classificado como Interesse Nacional se sobrepõe a interesses particulares e outras proteções como a REN – Reserva Ecológica Nacional ou a RAN – Reserva Agrícola Nacional.
Preocupações sem resposta
“Estas são as casas que vão ser prejudicadas de forma violenta”, introduzia António Loureiro, antes de começar a mostrar as propriedades, pedindo que os lesados se identificassem e ficassem até ao fim para deixar o contacto junto do Município, no sentido de serem ajudados a preencher a participação a submeter à APA.
Na solução B apareceram seis casas no ecrã e uma a menos na A, algumas são afetadas por ambos os trajetos. “Olha, a nossa casa”. “É a da Ti Nazaré”. “Esse aí sou eu”. As vozes que enchiam o salão da Junta começaram a erguer-se com preocupações relativas a indeminizações, apoio camarário para alojamento alternativo e armazéns para guardar pertences, perda de valor comercial dos imóveis, apoio jurídico e vias de acesso.
O executivo municipal, presente na sessão de esclarecimento em Ovar, a cargo da IP, informou que foram levantadas questões semelhantes para as quais “não houve uma resposta cabal”.
Eduardo Ferreira, arquiteto municipal, acrescentou que, nessa mesma sessão, houve “a garantia verbal de que todas as vias de acesso afetadas pela LAV serão reconstruídas” e partilhou a frustração com o público em relação à ausência de compensação financeira para os indiretamente prejudicados, quem não terá a casa demolida, mas impacto sonoro e de desvalorização da propriedade.
“É a única coisa que me resta das minhas raízes aqui. Vou ter de deixar de viver naquela casa”, desabafa Célia Silva, uma das freguesas mais afetadas pela LAV. António Loureiro lamenta que não seja a IP a realizar as sessões de esclarecimentos em Albergaria, tal como foi pedido pelo Município, mas está confiante de que, quando o momento chegar, o próximo executivo “vai apoiar os munícipes”, sem possibilidade de prever como.