A sessão de esclarecimento sobre os traçados da Linha de Alta Velocidade (LAV) com passagem em Angeja decorreu, ontem, no salão da Junta. A solução a nascente da A1 não passa na freguesia, mas os angejenses que enchiam a sala mostraram-se apreensivos em relação à alternativa, que afeta significativamente a zona do Fontão, incluindo casas tratadas pelo nome próprio, “a da Cristina e a do Horácio”, com memórias e histórias dentro.
O executivo municipal foi pragmático. “É importante frisar que este não é um projeto da Câmara. O município decidiu, em boa hora, colocar uma equipa técnica a analisar os traçados, mas não é uma situação que possa ser impedida por nós”, esclarecia António Loureiro, presidente da Câmara Municipal.
Eduardo Ferreira, arquiteto municipal, reforçou a mensagem e deixou claro que “as escolhas já estão definidas e dadas as caraterísticas da linha não é possível que sejam feitas grandes alterações”, uma mensagem confirmada pelo vice-presidente da Câmara, Delfim Bismarck, como diz ter ficado claro na sessão de esclarecimento em Ovar, onde estivera no dia anterior.
O técnico seguiu com a explicação, detalhando o impacto em Angeja. Existe um traçado que “afeta grandemente o Fontão”, a chamada “solução B”, a poente da A1, que implicaria o “atravessamento em viaduto” com 630 metros de comprimento e 40 de largura, com passagem pela Ribeira do Fontão.
Para além da expropriação de propriedades, os oradores relembram o impacto ambiental, paisagístico e sonoro para a região – mesmo durante a noite, com os trabalhos de manutenção. A zona de passagem ser rica em património molinológico e biodiversidade, sobretudo na Pateira de Frossos, são argumentos em defesa da solução A, a nascente da A1, que não passaria pela freguesia, ou a alternativa ILBA, uma interligação da linha B para A que libertaria Frossos e Angeja da passagem da LAV, apesar de incluir São Marcos e Soutelo (Albergaria-a-Velha e Valmaior).
Delfim Bismarck acrescenta que estas opções de traçado se referem à Fase 1 do projeto final da LAV, que vai de Porto a Soure, com obras a começar em 2025 e a terminar em 2028. O vice-presidente informa que a solução A é a que tem menor impacto geral ambiental e socioeconómico e é a menos prejudicial para São João de Loure, afetada por qualquer dos trajetos.
Mitigar “esta bomba”
António Loureiro incentivou a que todos se dirigissem à Câmara Municipal e Junta de Freguesia, até terça-feira, dia 13, para “esclarecer todas as questões, saber especificamente onde passa e se passa na vossa casa”, de modo a preencher a participação no website participa.pt, para análise por parte da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). “Temos de ser muito objetivos e pragmáticos nas participações. As opções que fazem sentido para Angeja são a A ou a ILBA”, reforça o presidente.
“A casa do sr. Horácio era um moinho e vai também ser afetada. A minha casa era dos meus bisavós. Foi recuperada pelos meus avós, pais e por mim. Agora, de repente, cai-nos esta bomba em cima”, desabafa Cristina, a residente mais afetada, caso seja final a solução B.
A proprietária lamenta que se perca uma casa com tanto valor sentimental e elevado investimento. “Sempre tivemos todos os cuidados ambientais e paisagísticos com as obras e agora pode-se tudo? Para além disso, há uns anos, estiveram lá uns técnicos que me informaram que não se podia construir nada de substancial ali porque o solo não aguentava. É importante lembrar que se trata de uma zona de grande erosão. Eu tenho mapas a demonstrar isso”, expõe, e é dada como exemplo de como devem ser feitas as participações no participa.pt – com argumentos e documentos.