Afinal quais são os efeitos do isolamento no cérebro, na mente e o comportamento dos seres humanos? E o que tudo isso significa para a nossa saúde mental e o que é que a ciência nos diz sobre estas questões? É justamente sobre isso que falaremos neste artigo.
(…) Com base nas neurociências, afinal o que é que acontece com nosso cérebro dentro de um processo de isolamento? O que acontece com o encéfalo, com a mente, com comportamento e com a saúde mental? Desta forma, primeiro precisamos de entender o que está a acontecer em nós a quando num processo de isolamento.
O isolamento está intimamente ligado com a solidão, mas antes de falarmos sobre a solidão é importante contextualizar este momento que estamos a viver, é importante olharmos para nós próprios, nesse sentido, verificamos que este momento de isolamento que estamos a viver é profundamente stressante, sublinho, estamos a falar do stres negativo, do stress prejudicial. Esse stress deve-se a um excesso de procura de respostas, logo um excesso de desafio para o nosso cérebro e para o nosso corpo em relação às competências que o cérebro e o corpo têm para lidar com esses desafios, então, para o nosso cérebro, este momento, é de procura de respostas em demasia, sendo um desafio demasiado para competência a menos, face à capacidade que o nosso cérebro e o nosso corpo têm para se conseguirem libertar do stress oxidativo das nossas células, logo, é extremamente prejudicial para a nossa saúde e compromete inclusivamente a nossa longevidade, faz com que vivamos menos anos de vida e trás risco para um conjunto de doenças como por exemplos os problemas inflamatórios no nosso organismo consequentes das alterações ao padrões cerebrais estimulados pelos momentos que vivemos. (…)
O confinamento leva-nos para a solidão, para o stress, mas observemos com mais detalhe, no que toca ao confinamento temos dois cenários, o da solidão e o da solitude. A solidão envolve um aspeto negativo já a solitude, é um estado de privacidade de uma pessoa, não significa, propriamente o estado de solidão. A solitude pode representar o isolamento e a reclusão, voluntários ou impostos, porém não diretamente associados a sofrimento.
Solitude pode ser usada positivamente para adicionar oportunidades de meditação, concentração, introspeção ou oração individuais e alcançar um estado de paz e/ou de consolo. Já a solidão está associada à dor e tristeza e pode acontecer, mesmo, quando estamos rodeados de pessoas, a solidão é a sensação de estar só, ela acontece quando não tem pessoas disponíveis para amparar, que não tem ou que não sente companhia, que não tem pessoas nas quais pode ter apoio, e é esse padrão de solidão, ele é muito perigoso para a sua saúde psicossomática.
A solidão faz-se acompanhar de um conjunto de problemas. (…)
Não é fruto do acaso que pessoas que vivem em solidão crónicas tendem a problemas de saúde que vão desde problemas cardiovasculares, com elevado risco de enfarte do miocárdio, logo, mais chance de problemas cardiovasculares, mais hipótese para acidentes vasculares cerebrais chamado de AVC ou derrame cerebral, assim, mais chance para outros problemas de saúde mental como por exemplo a doença de alzheimer, que por sua vez, tem, também, maior probabilidade de desenvolver transtornos neuropsiquiátricos como depressão, ansiedade, entre outros.
Desta forma, é importante compreender que para além disso o stress promovido pelo isolamento, ou seja, por sentir-se sozinho, também pode fazer com que o seu sistema imunitário funcione com limitações, implicando suscetibilidade para doenças infeciosas, seria importante referir, que, quando vivemos em stress crónico os níveis de stress permanecem de uma forma tão elevada por um longo período de tempo que o nosso sistema imunológico fique comprometido.
Voltando ao efeito da solidão, vários estudos realizados, nomeadamente em solitárias de prisões, revelam, que quando uma pessoa se encontra completamente isolada, em que não tem uma janela, não tem televisão, não tem livro, não tem telemóvel ou computador para assistir ou pesquisar informações mostram que depois de três dias nesse cenário começam a desenvolver alterações disfuncionais no cérebro, ou seja, começa a ter prejuízos do ponto de vista das ligações cerebrais
Assim, devemos considerar a solidão como um problema grave de saúde pública, problema este que envolve toda a sociedade e que inclusive agravará o sistema de saúde.
O isola.mento em que nos encontramos, por mais importante que seja no combate a esta pandemia, é causador de elevado stress, e em grande parte das pessoas apresentam-se ou apresentar-se-á em forma de sintoma de stress pós-traumático, ou seja, mesmo depois deste isolamento levantado e iniciada a normalidade, vamos continuar a ser afetados pelo trauma que este cenário desenvolveu em nós e no nosso cérebro.
Voltando ao presente, hoje, temos pessoas que vivem com sintomas depressivos ou seja, humor deprimido, estados de humor mais triste ou menos alegre, assim, temos menos desejo, menos vontade de fazer coisas e menos prazer ao fazer as tarefas que estávamos habituados, logo, menos motivação no dia a dia e menos energia, tudo isto resume.se a sintomas depressivos, outra coisa que também poderão acontecer são sintomas de ansiedade, no qual ficaremos muito preocupados, muito ansiosos em relação que está e vai acontecer, pode mesmo acontecer um fenómeno que chamamos de antecipação catastrófica, no qual viveremos uma condição constante de pensamentos negativos relacionados com os cenários trágicos que poderão acontecer no futuro, desenvolvendo assim, um comprometimento compulsivo das nossas competências cognitivas.
Todos esta fatores, para além de colocarem em causa a saúde mental, não podemos esquecer que nos levam a um processo de stress no qual teremos dificuldade de pensamento, e pior ainda, de tomada de decisão, associados a problemas de memória, talvez esteja a sentir isto neste momento, mas é importante que entenda que isto é natural e normal, acontece porque o cérebro humano exige socialização, essa necessidade primária dos seres humanos.
Assim, o amparo social é tao importante para o ser humano que se pararmos para pensar, o que um recém nascido necessita após o parto é o amparo da mãe, poderíamos afirmar que a primeira necessidade dele é comida ou ar para respirar, no entanto, a primeira necessidade da criança é ter outra pessoa disponível para cuidar dela, caso contrario, o recém nascido não sobreviveria, ele não tem autonomia para a alimentação, muito menos proteção às ameaças do meio ambiente, assim encontra-se vulnerável face às adversidades do sistema, neste sentido, e retomando aos nossos ancestrais, verificamos que a primeira necessidade do ser humano quando nasceu foi que tivesse um adulto a facilitar a rede de amparo.
Assim, desde que nascemos, temos um imperativo biológico, a necessidade de conexão humana e esse é o motivo pelo qual é tão importante nos conetarmos com outros seres humanos.