Os efeitos do Isolamento

0
151

Afinal quais são os efeitos do isolamento no cérebro, na mente e o comportamento dos seres huma­nos? E o que tudo isso significa para a nossa saúde mental e o que é que a ciência nos diz sobre estas questões? É justamente sobre isso que falare­mos neste artigo.

(…) Com base nas neurociên­cias, afinal o que é que acontece com nosso cérebro dentro de um processo de isolamento? O que acontece com o encéfalo, com a mente, com comporta­mento e com a saúde mental? Desta forma, primeiro preci­samos de entender o que está a acontecer em nós a quando num processo de isolamento.
O isolamento está intimamente ligado com a solidão, mas antes de falarmos sobre a solidão é impor­tante contextualizar este momen­to que estamos a viver, é impor­tante olharmos para nós próprios, nesse sentido, verificamos que este momento de isolamento que estamos a viver é profundamente stressante, sublinho, estamos a fa­lar do stres negativo, do stress pre­judicial. Esse stress deve-se a um excesso de procura de respostas, logo um excesso de desafio para o nosso cérebro e para o nosso corpo em relação às competências que o cérebro e o corpo têm para lidar com esses desafios, então, para o nosso cérebro, este mo­mento, é de procura de respostas em demasia, sendo um desafio demasiado para competência a menos, face à capacidade que o nosso cérebro e o nosso corpo têm para se conseguirem libertar do stress oxidativo das nossas células, logo, é extremamente prejudicial para a nossa saúde e compromete inclusivamente a nossa longevida­de, faz com que vivamos menos anos de vida e trás risco para um conjunto de doenças como por exemplos os problemas inflama­tórios no nosso organismo conse­quentes das alterações ao padrões cerebrais estimulados pelos mo­mentos que vivemos. (…)
O confinamento leva-nos para a solidão, para o stress, mas ob­servemos com mais detalhe, no que toca ao confinamento temos dois cenários, o da solidão e o da solitude. A solidão envolve um aspeto negativo já a solitude, é um estado de privacidade de uma pessoa, não significa, pro­priamente o estado de solidão. A solitude pode representar o iso­lamento e a reclusão, voluntários ou impostos, porém não direta­mente associados a sofrimento.
Solitude pode ser usada positi­vamente para adicionar oportu­nidades de meditação, concen­tração, introspeção ou oração individuais e alcançar um estado de paz e/ou de consolo. Já a soli­dão está associada à dor e tristeza e pode acontecer, mesmo, quando estamos rodeados de pessoas, a solidão é a sensação de estar só, ela acontece quando não tem pessoas disponíveis para amparar, que não tem ou que não sente companhia, que não tem pessoas nas quais pode ter apoio, e é esse padrão de solidão, ele é muito perigoso para a sua saúde psicossomática.
A solidão faz-se acompanhar de um conjunto de problemas. (…)
Não é fruto do acaso que pes­soas que vivem em solidão cróni­cas tendem a problemas de saúde que vão desde problemas cardio­vasculares, com elevado risco de enfarte do miocárdio, logo, mais chance de problemas cardio­vasculares, mais hipótese para acidentes vasculares cerebrais chamado de AVC ou derrame cerebral, assim, mais chance para outros problemas de saúde men­tal como por exemplo a doença de alzheimer, que por sua vez, tem, também, maior probabilidade de desenvolver transtornos neurop­siquiátricos como depressão, an­siedade, entre outros.
Desta forma, é importante compreender que para além disso o stress promovido pelo isolamento, ou seja, por sentir­-se sozinho, também pode fazer com que o seu sistema imuni­tário funcione com limitações, implicando suscetibilidade para doenças infeciosas, seria importante referir, que, quan­do vivemos em stress crónico os níveis de stress permanecem de uma forma tão elevada por um longo período de tempo que o nosso sistema imunoló­gico fique comprometido.
Voltando ao efeito da solidão, vários estudos realizados, nomea­damente em solitárias de prisões, revelam, que quando uma pessoa se encontra completamente isola­da, em que não tem uma janela, não tem televisão, não tem livro, não tem telemóvel ou computador para assistir ou pesquisar infor­mações mostram que depois de três dias nesse cenário começam a desenvolver alterações disfuncio­nais no cérebro, ou seja, começa a ter prejuízos do ponto de vista das ligações cerebrais
Assim, devemos considerar a solidão como um problema gra­ve de saúde pública, problema este que envolve toda a socie­dade e que inclusive agravará o sistema de saúde.
O isola.mento em que nos encontramos, por mais impor­tante que seja no combate a esta pandemia, é causador de eleva­do stress, e em grande parte das pessoas apresentam-se ou apre­sentar-se-á em forma de sinto­ma de stress pós-traumático, ou seja, mesmo depois deste iso­lamento levantado e iniciada a normalidade, vamos continuar a ser afetados pelo trauma que este cenário desenvolveu em nós e no nosso cérebro.
Voltando ao presente, hoje, temos pessoas que vivem com sintomas depressivos ou seja, humor deprimido, estados de humor mais triste ou menos ale­gre, assim, temos menos desejo, menos vontade de fazer coisas e menos prazer ao fazer as tarefas que estávamos habituados, logo, menos motivação no dia a dia e menos energia, tudo isto resu­me.se a sintomas depressivos, outra coisa que também pode­rão acontecer são sintomas de ansiedade, no qual ficaremos muito preocupados, muito an­siosos em relação que está e vai acontecer, pode mesmo aconte­cer um fenómeno que chama­mos de antecipação catastrófica, no qual viveremos uma condi­ção constante de pensamentos negativos relacionados com os cenários trágicos que poderão acontecer no futuro, desenvol­vendo assim, um comprometi­mento compulsivo das nossas competências cognitivas.
Todos esta fatores, para além de colocarem em causa a saúde mental, não podemos esquecer que nos levam a um processo de stress no qual teremos dificulda­de de pensamento, e pior ainda, de tomada de decisão, associa­dos a problemas de memória, talvez esteja a sentir isto neste momento, mas é importante que entenda que isto é natural e nor­mal, acontece porque o cérebro humano exige socialização, essa necessidade primária dos seres humanos.
Assim, o amparo social é tao importante para o ser humano que se pararmos para pensar, o que um recém nascido necessita após o parto é o amparo da mãe, poderíamos afirmar que a pri­meira necessidade dele é comida ou ar para respirar, no entanto, a primeira necessidade da crian­ça é ter outra pessoa disponível para cuidar dela, caso contrario, o recém nascido não sobrevive­ria, ele não tem autonomia para a alimentação, muito menos proteção às ameaças do meio ambiente, assim encontra-se vulnerável face às adversida­des do sistema, neste sentido, e retomando aos nossos ances­trais, verificamos que a primei­ra necessidade do ser humano quando nasceu foi que tivesse um adulto a facilitar a rede de amparo.
Assim, desde que nascemos, temos um imperativo biológico, a necessidade de conexão huma­na e esse é o motivo pelo qual é tão importante nos conetarmos com outros seres humanos.