O Governo anunciou o conjunto de medidas que irão abrir portas à nova realidade social. Em um mês, pelo menos, vamos assistir a uma tentativa de recuperação económica, mas também, da aplicação de uma estratégia que possa impedir um retrocesso no combate à pandemia do novo coronavírus.
Atualmente vivemos uma fase de “lua-de-mel”, em que os recursos foram aparecendo adequadamente, os donativos e iniciativas de interajuda multiplicaram-se e os números pandémicos dão uma sensação de otimismo e de que ”vai ficar tudo bem”.
A reduzida evolução dos números referentes à propagação da doença COVID-19 deve-se, não só à aplicação de medidas políticas, mas também ao comportamento social dos portugueses. Fomos exímios no confinamento e na manutenção da distância física. Mas é facto que, se os números nacionais são soberbos para as grandes referências europeias, já o mesmo não se pode considerar quando avaliados os números da economia real.
O senhor primeiro-ministro disse que se fosse preciso daria um passo atrás, mas eu mantenho tal apreensão e preocupação no passo à frente. Os serviços de saúde adaptar-se-ão e irão retomar a sua restante atividade assistencial que, até então, esteve suspensa. É cientificamente previsível um aumento de pessoas infetadas aquando do levantamento das restrições. Se for necessário o retorno de medidas restritivas, estarão os serviços de saúde capazes de se voltar a readaptar, tendo em conta que voltarão ao seu funcionamento pleno?
Este desconfinamento também demonstrou que, até agora, os serviços de saúde souberam avaliar as necessidades de cuidados, adaptarem-se ao contexto pandémico e atuarem adequadamente. Foram os profissionais de saúde, pilar fundamental do nosso SNS, que também garantiram a eficácia da atuação. Não se faz um serviço de saúde só de recursos materiais, mas também desta dedicação reconhecida dos recursos humanos que o compõem. Se é verdade que foi enorme o reconhecimento que a sociedade tem manifestado aos profissionais de saúde, também sabemos quanto lhes é importante esta motivação para as suas atitudes altruístas na prestação de cuidados.
No entanto, o fim desta “lua-de-mel” dará início a uma fase de desilusão sentida pelos profissionais de saúde, combinado com o desgaste acumulado, a ausência de expectativas profissionais e o desinvestimento salarial nestes profissionais que tiveram de dizer “presente” na linha da frente dos nossos serviços de saúde.
O respeito, orgulho e admiração por estes profissionais terá de perdurar para que, após esta reconstrução económica e adaptação social, saibamos que os que estiveram na linha da frente merecem ser recompensados. Não só pensando que podemos voltar a precisar deles, mas pelo que fizeram até agora.