Desconfinamento: um passo à frente ou um passo atrás?

0
202

O Governo anunciou o con­junto de medidas que irão abrir portas à nova realidade social. Em um mês, pelo menos, va­mos assistir a uma tentativa de recuperação económica, mas também, da aplicação de uma estratégia que possa impedir um retrocesso no combate à pandemia do novo coronavírus.
Atualmente vivemos uma fase de “lua-de-mel”, em que os recursos foram aparecendo adequadamente, os donativos e iniciativas de interajuda multi­plicaram-se e os números pan­démicos dão uma sensação de otimismo e de que ”vai ficar tudo bem”.
A reduzida evolução dos nú­meros referentes à propagação da doença COVID-19 deve-se, não só à aplicação de medidas políticas, mas também ao com­portamento social dos portu­gueses. Fomos exímios no con­finamento e na manutenção da distância física. Mas é facto que, se os números nacionais são so­berbos para as grandes referên­cias europeias, já o mesmo não se pode considerar quando ava­liados os números da economia real.
O senhor primeiro-ministro disse que se fosse preciso daria um passo atrás, mas eu mante­nho tal apreensão e preocupa­ção no passo à frente. Os ser­viços de saúde adaptar-se-ão e irão retomar a sua restante atividade assistencial que, até então, esteve suspensa. É cienti­ficamente previsível um aumen­to de pessoas infetadas aquando do levantamento das restrições. Se for necessário o retorno de medidas restritivas, estarão os serviços de saúde capazes de se voltar a readaptar, tendo em conta que voltarão ao seu fun­cionamento pleno?
Este desconfinamento tam­bém demonstrou que, até ago­ra, os serviços de saúde sou­beram avaliar as necessidades de cuidados, adaptarem-se ao contexto pandémico e atuarem adequadamente. Foram os pro­fissionais de saúde, pilar funda­mental do nosso SNS, que tam­bém garantiram a eficácia da atuação. Não se faz um serviço de saúde só de recursos mate­riais, mas também desta dedi­cação reconhecida dos recursos humanos que o compõem. Se é verdade que foi enorme o re­conhecimento que a sociedade tem manifestado aos profissio­nais de saúde, também sabemos quanto lhes é importante esta motivação para as suas atitudes altruístas na prestação de cuida­dos.
No entanto, o fim desta “lua­-de-mel” dará início a uma fase de desilusão sentida pelos pro­fissionais de saúde, combinado com o desgaste acumulado, a ausência de expectativas pro­fissionais e o desinvestimento salarial nestes profissionais que tiveram de dizer “presente” na linha da frente dos nossos servi­ços de saúde.
O respeito, orgulho e admi­ração por estes profissionais terá de perdurar para que, após esta reconstrução económica e adaptação social, saibamos que os que estiveram na linha da frente merecem ser recom­pensados. Não só pensando que podemos voltar a precisar deles, mas pelo que fizeram até agora.