As escolas e universidades “não podem ter muros”, têm de se abrir às empresas e estas também têm de estar abertas aos estudantes. No concelho de Albergaria-a-Velha há sinais positivos dessa cooperação, com dois centros tecnológicos especializados que pretendem fazer a ponte com o tecido empresarial. Contudo, há muito mais a fazer para não hipotecar o futuro, conforme foi salientado na conferência “Competitividade e Desafios das Empresas Portuguesas”, promovida pelo Rotary Club de Albergaria-a-Velha.
“Refletir sobre temas importantes para as empresas que, embora sedeadas em Albergaria, têm impacto nacional e internacional”, foi – como explicou, logo de início, Edgar Borges, presidente do Rotary Club de Albergaria-a-Velha – o objetivo da conferência “Competitividade e Desafios das Empresas Portuguesas”, que decorreu no final da tarde de hoje, no auditório do Cineteatro.
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), foi o primeiro a usar da palavra, com uma abordagem macroeconómica, em que apontou os problemas que, na sua opinião, criam obstáculos ao crescimento e competitividade. “Faltam políticas públicas para que as empresas tenham melhor desempenho”, afirmou. “É muito bonito dizer que temos de crescer, mas os que ousam fazê-lo são penalizados em termos fiscais”, criticou, acrescentando que há 4300 taxas e impostos, e que “temos a carga fiscal mais elevada de todos os tempos”, num país em que 96% do tecido empresarial é constituído por micro, pequenas e médias empresas. A falta de recursos humanos foi também referida. Os baixos salários afastam os mais qualificados e a “falta de uma política de imigração” não atrai trabalhadores de outros países.
“Os diagnósticos estão todos feitos, o que falta é agir, para não hipotecar o futuro”, disse o presidente da AEP.
Tornar as empresas sexys
Em seguida, Nuno Silva, administrador executivo do Grupo Durit, centrou a sua intervenção nos desafios que as empresas têm que enfrentar. “Sempre os enfrentámos, os empresários e os gestores gostam de desafios”, sublinhou.
Focando-se em dois temas cruciais – as pessoas e a inovação tecnológica – Nuno Silva falou da “sustentabilidade económica”, considerando-a “essencial para que a sustentabilidade social e ambiental aconteçam”. Em seu entender, há que adaptar as pessoas aos processos de transformação das empresas, designadamente, no que toca à introdução da inteligência artificial. Defendeu, também, que há que tornar as empresas “sexys, bonitas, com espaços agradáveis”, para estimular os trabalhadores.
Numa mensagem final, realçou que, para ganhar escala e ultrapassar os problemas existentes, tem que haver “capacidade de nos unirmos de forma estruturada, para influenciarmos quem toma as decisões”, contando, em primeiro lugar, com os municípios e depois com o Poder Central.
Por último, interveio António Loureiro, presidente da Câmara Municipal, que trouxe palavras de otimismo e lançou um repto aos empresários. Começando pelas boas notícias, o autarca informou que há duas empresas que vão ceder equipamentos para o Centro Tecnológico Especializado (CTE) da Secundária de Albergaria. “As escolas não podem ter muros, têm que se abrir ao tecido empresarial”, frisou, desafiando os empresários a investirem também na educação e na habitação, para que as pessoas possam vir trabalhar para Albergaria.
Ensino desfasado da realidade
As suas palavras foram acolhidas com agrado, lembrando que também há um CTE na Branca, para dotar os jovens do concelho de competências tecnológicas. Porém, foram vários os intervenientes, inclusive do público, que expressaram a sua preocupação sobre o sistema de ensino e o seu desfasamento das necessidades do mercado.
“Albergaria ganha muito em ter dois CTE, mas é preciso fazer um esforço muito grande para dotar a escola com professores com ligação à indústria e serviços, como antes havia nas antigas Escolas Industriais e Comerciais”, disse Nuno Silva. Sobre este ponto, os presentes admitiram que tem de haver uma aproximação recíproca entre escolas e empresas.
Quanto ao investimento na habitação, desafio lançado por António Loureiro, Luís Miguel Ribeiro concordou com a necessidade de criar condições para que “não haja nove pessoas a viver num t1, ou outras situações pouco dignas, que não nos orgulham”.
Ante da sessão terminar, toda ela com Edgar Borges no papel de moderador, Fernando Paiva de Castro, presidente da AIDA – Câmara de Comércio e Indústria do Distrito de Aveiro, presente na assistência, anunciou que o 8.º Fórum Empresarial, que decorrerá em novembro, em Albergaria, terá como mote “melhor indústria, e melhor emprego”.