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Neste domingo de Caderneta de Cromos as equipas que entraram em campo deixaram tudo para decidir na última jornada. Apesar de haver duas candidatas quase arredadas, ainda têm uma palavra a dizer.
Nipónicos displicentes e costa riquenhos eficazes
Se a vitória do Japão diante da Alemanha tinha deixado o mundo boquiaberto, o segundo resultado dos nipónicos frente a uma Costa Rica que foi goleada por 7-0 no primeiro jogo e não mostrou nada ofensivamente, foi uma desilusão enorme.
A vitória mais do que esperada, não só pelo resultado anterior de ambas as formações, mas também pelos valores coletivos e individuais das duas equipas, levaria o Japão diretamente para os oitavos de final, podendo relaxar no jogo final frente à Espanha. À Costa Rica o empate era mau e a vitória interessava para poder depender apenas de si, ainda que o último jogo reservasse um encontro marcado com a Alemanha.
O jogo foi monótono. O Japão teve a iniciativa durante os 90 minutos, mas muito displicente, no sentido em que sabia que era a melhor equipa e estava sempre mais perto do golo, e que este chegaria a qualquer altura, era apenas uma questão de tempo. Então o conjunto nipónico foi desperdiçando oportunidades, foi deixando de as criar, a Costa Rica fechava-se cada vez e sempre que tentava seguir para o ataque havia a ideia de que os jogadores não tinham técnica nem tática para o saber fazer.
Eis que, perto do final, Fuller aproveita um erro crasso de Morita, e atira para dentro da baliza do Japão. Sem saber ler nem escrever, a Costa Rica apanhava-se a ganhar um jogo do mundial. No primeiro remate à baliza que fez em todo o mundial (não fez nenhum diante da Espanha e fez dois neste jogo: um enquadrado e outro para fora), marcou um golo. O Japão bem tentou, correndo contra o tempo, mas não conseguiu furar a baliza de Keylor Navas.
Os nipónicos só se podem culpar a si próprios porque no jogo mais acessível fizeram o mais difícil e agora a passagem à próxima fase pode ser apenas miragem.
Belgas sentem o peso da idade
Numa das conferências de imprensa que a Bélgica deu para lançar a partida frente a Marrocos, Kevin De Bruyne, figura maior do conjunto belga, admitiu que a Bélgica não tem hipótese de vencer o mundial. “Somos muito velhos”, justificou o médio do Manchester City.
Se o disse com ironia, não se sabe, mas o que é certo é que o jogo contra Marrocos bem fez parecer aquilo que tinha dito. A Bélgica já contra o Canadá foi surpreendida e venceu num autêntico golpe de sorte. A sorte não dura para sempre e hoje o conjunto marroquino comprovou que esta Bélgica já foi mais Bélgica, ou mais jovem.
No jogo com o ambiente mais incrível nas bancadas, a Bélgica até começou melhor, para provar que ainda estava para as curvas. Com o passar do tempo, os marroquinos equilibraram e o jogo murchou ligeiramente, jogando-se a meio-campo e mais longe das balizas. Marrocos foi adiantando no terreno e teve as primeiras ocasiões de golo.
Na segunda parte, quando já se pensava que a Bélgica se iria safar novamente mesmo sem o provar em campo, eis que de livre direto sai o primeiro coelho da cartola por parte de Marrocos. Um lance que foi papel químico de outro da primeira parte, esse anulado por fora de jogo, desta vez contou mesmo e deu a vantagem merecida à turma marroquina.
Os belgas deitavam a toalha ao chão e Marrocos voltou a aproveitar, já na compensação, para dar a machadada final.
Com este resultado a Bélgica ainda está na luta, num grupo em aberto com três equipas com possibilidades de chegar aos oitavos de final. Matematicamente é possível, falta é a Bélgica vencer a Croácia no último jogo.
Canadá perdeu em campo, mas ganhou nos corações
Uma das equipas mais atrativas e emocionantes deste Qatar 2022 disse hoje adeus à competição. O Canadá, terra onde se diz ‘soccer’, foi derrotado pela Croácia e mesmo vencendo a última partida, contra Marrocos, já sabe que não se vai apurar os oitavos de final.
Uma pena, pois esta equipa fez o mundo apaixonar-se na forma como jogou olhos nos olhos diante da Bélgica, e não lhes ficou nada atrás, a não ser no resultado, totalmente furtuito para os belgas.
O jogo de hoje não correu tão bem, apesar de continuar igualmente personalizada e a mostrar um bom futebol. Até foi o Canadá a adiantar-se por intermédio de Alphonso Davies. O lateral do Bayern Munique foi mesmo o primeiro jogador do Canadá a marcar num mundial. Se a história estava prestes a ser feita, a Croácia ia desfazer essa história em pedaços, pois foram implacáveis.
A Croácia que começou com um modesto e enfadonho empate contra Marrocos, mostrou hoje porque é vice-campeã mundial, ao puxar dos galões. Kramaric e Livaja operaram a reviravolta ainda na primeira parte. O primeiro e Majer fecharam ainda a contagem em 4-1 para os croatas, despedaçando o sonho dos canadianos e o coração de milhões de adeptos que ficaram a torcer pelo ‘underdog’ Canadá com o seu futebol atraente.
Jogo de cartaz não desiludiu
Uma semana depois, o mundial do Qatar teve, finalmente, o seu melhor jogo. Espanha e Alemanha mediram forças num duelo emocionante e empolgante de início ao fim.
Vindas de contexto diferente, a Espanha tinha cilindrado a Costa Rica por 7-0, a Alemanha viu-lhe fugir um triunfo premeditado diante do Japão e precisava de pontuar para sonhar com a passagem, as duas equipas deram tudo de si num jogo que terminou com divisão de pontos.
Num jogo equilibrado, repartido, com grandes chances, remates e defesas, podia ter sido uma final, foi apenas uma segunda jornada da fase de grupos, foi a Espanha quem comandou nos primeiros minutos. Com o estilo rendilhado, a deter a posse da bola e a empurrar, aos poucos, a equipa adversária para a sua área, os espanhóis tentaram primeiro, mas sem sucesso. A Alemanha apostava na força física e na velocidade que tinha nas alas, investidas essas que se revelaram infrutíferas.
Só na segunda parte o marcador mexeu. Primeiro a Espanha, que se mostrava melhor, Morata fez o um a zero e deixava a Alemanha de Flick praticamente fora do mundial. O técnico germânico puxou dos galões e chamou a cavalaria pesada. Sané entrou para dar velocidade no flanco, Fullkrug para dar presença na área. Musiala e Gavi travaram um duelo de ‘golden boys’, tendo ambos um protagonismo cada vez mais acentuado nas suas equipas.
O avançado do Werder Bremem iria mesmo empatar a partida, já perto do fim do encontro. Com a Alemanha nunca se pode facilitar nem contar que fique de fora, e eles lá deram uma luz que os mantém, ainda que muito dificilmente, dentro deste campeonato do mundo.
Era uma vez… o Mundial | Os Magriços e a lenda de Eusébio
O ano de 1966 é de boas recordações para os portugueses, no que ao futebol diz respeito. Não só a equipa das quinas chegaria finalmente a um mundial, como teria lugar no seu pódio. A lenda de Eusébio da Silva Ferreira, que, entretanto, chegaria a Inglaterra com a bola de ouro na mão, seria feita ali, em terras de sua majestade.
Inglaterra acolheu o torneio que acabou por vencer. Mas não foi a Inglaterra que espantou o mundo naquele mundial. Portugal e Coreia do Norte seriam as grandes e agradáveis surpresas.
Portugal fez uma fase de grupos imaculada, três jogos, três vitórias, uma das quais frente ao bi-campeão Brasil, sendo um dos choques do mundial. Do outro lado, a Coreia do Norte, totalmente desconhecida, mandava a Itália para casa mais cedo.
Ambas se encontraram nos quartos de final da competição. Aos 25 minutos, já os coreanos venciam por 3-0. Uma das mais épicas reviravoltas da história de mundiais estava prestes a acontecer. Eusébio arregaçou as mangas e reduziu para 3-2 ainda antes do intervalo. Na segunda parte faria mais dois, antes de José Augusto terminar o placar em 5-3 para Portugal.
A equipa das quinas chegaria às meias-finais onde iria cair para o futuro campeão mundial: a Inglaterra. Num jogo envolto em polémica, que estava previsto ser jogado em Liverpool, mas à última da hora mudou-se para Londres, obrigando a seleção de Portugal a uma viagem mais longa, a Inglaterra superiorizou-se aos ‘magriços’, num jogo inglório para os portugueses. Eusébio fez o único tento de Portugal e terminou a partida inconsolável, por ter perdido a oportunidade de disputar uma final de uma grande competição.
A Inglaterra iria mesmo levantar o troféu frente à Alemanha, num jogo que teve dois golos em prolongamento, um deles que ainda é polémico nos dias de hoje. Aos 101 minutos, Hurst coloca a bola ‘dentro’ da baliza. Pelo menos foi a indicação que o árbitro assistente deu, ainda que o guarda-redes alemão defenda que a bola não entrou. Certo é que a bola terá caído perto da linha de golo, se foi dentro ou fora, só os protagonistas na altura o sabem.
Portugal viria a terminar em terceiro lugar, após derrotar a URSS no jogo inglório do terceiro e quarto lugares. Eusébio bateu Yashin de penalti e José Torres selou a vitória e o bronze português em Inglaterra. Eusébio marcou 9 golos e foi o melhor daquele mundial, ainda que a FIFA tenha atribuído o prémio a Bobby Charlton. O Pantera Negra elevou o seu estatuto a lenda do futebol mundial com a forma como levou a equipa dos ‘Magriços’ para as meias-finais, com os seus golos fantásticos e lances inacreditáveis. O astro benfiquista fez, em Inglaterra, a rainha Isabel II sua fã naquele torneio.