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O segundo dia da “Caderneta de Cromos” trouxe muitos cromos e muitos golos. Desde compensações parecidas com prolongamentos, a uma goleada histórica, um golo que esteve 64 anos no forno e um duelo equilibrado entre senegaleses e neerlandeses.
Ingleses arrasam Irão em jogo de protestos
O Inglaterra x Irão abriu o apetite para o segundo dia do Mundial do Qatar. Às 13h portuguesas, ingleses e iranianos entravam em campo para disputar a primeira jornada do grupo B.
Antes da competição iniciar, várias seleções, entre elas a Inglaterra, decidiam utilizar uma braçadeira de capitão especial, simbólica, com a bandeira LGBTQ+. Proibidos pela FIFA, sob a sanção de um cartão amarelo ao capitão de equipa, Harry Kane, logo ao início do encontro, os ingleses desistiram da ideia. Mas nem por isso deixaram de protestar. Ainda antes do apito inicial, os onze ingleses ajoelharam-se no relvado, protagonizando uma mensagem de protesto que já se tornou famoso ao longo do tempo. Do outro lado, os jogadores iranianos recusaram-se a cantar o hino nacional, em protesto com o regime iraniano e a revolta pelos direitos das mulheres.
O jogo, esse teve uma paragem enorme, um festival de golos e tempos de compensação a fazer lembrar um prolongamento. Logo aos 2 minutos a equipa inglesa reclamava uma falta na grande área por uma falta sobre Maguire, que o impedira de jogar a bola. O árbitro mandou jogar e pouco depois, antes dos dez minutos, um choque frontal entre o guarda-redes iraniano Alizera Beiranvand – ex-Boavista, e o colega de equipa, levou a uma enorme interrupção de cerca de 15 minutos, para socorrer o guardião do Irão, que saiu mesmo de maca. Para o seu lugar saltou do banco treinado por Carlos Queirós, Hosseini, que se soubesse tinha-se deixado ficar no lugar inicial. Em sete remates da Inglaterra, seis deram golo. Ao intervalo estava 3-0, com golos de Bellingham, Saka e Sterling. A segunda parte teve uma pequena reação iraniana, depois de três alterações de Queirós, e fruto de uma comodidade inglesa. Medhi Taremi, avançado do FC Porto, rematou a bola por cima de Pickford e fez o tento de honra para o Irão, imediatamente depois de Saka bisar na partida. Até aos 90’ a Inglaterra havia feito mais dois golos, Rashford, que entrou e em menos de um minuto depois picava o ponto, e Grealish, que dedicou o golo a um menino que sofre de paralisia cerebral. Já perto do fim dos gigantescos descontos da segunda parte (o árbitro já tinha dado 15’ na primeira parte, e 10’ na segunda), Taremi, de penalti, bisou e foi a figura maior de um Irão apagado.

Deu laranja em jogo morno
O segundo jogo do dia opunha as outras duas seleções do grupo A: Países Baixos, que regressavam oito anos depois a um mundial, depois de não se terem apurado para o mundial da Rússia, e o Senegal, vencedor da última Taça das Nações Africanas.
O jogo foi equilibrado a meio-campo, que é também sinónimo de muito poucas oportunidades de golo. Os Países Baixos entraram melhor, mas sem a chama do golo, falta alguém na frente que exprima o sumo da laranja mecânica, como outrora o faziam.
Quando já todos pensavam que ia dar empate sem golos, Gakpo, aos 84’ coloca a bola na baliza senegalesa, com Mendy a ficar mal na fotografia na forma como saiu dos postes. Já no fim da compensação, foi a vez de Klaassen fazer o gosto ao pé. Um resultado que é mais pesdo do que a exibição, apesar de tudo o Senegal é uma equipa personalizada e com alguma sorte à mistura pode lutar pelo apuramento à próxima fase.

Americanos e galeses de mãos dadas
O último jogo do dia opôs Estados Unidos da América, regressados após falharem o mundial russo em 2018, e o País de Gales, que esteve 64 anos a ver mundiais pela televisão. Num jogo em que os norte-americanos foram superiores – atenção a esta nova geração de jogadores – contra uma equipa de Gales ainda recém de Gareth Bale.
Tim Weah fez o que o seu pai George nunca fez, estar num mundial e fazer um golo, e Bale fez o que, por exemplo, Ryan Giggs nunca fez, apurar-se para um campeonato do mundo e apontar um golo. Um jogo histórico por esses fatores, mas que de resto não contou grande história.

Era uma vez… o Mundial | O Mundial do regime
Em 1930 o Uruguai o primeiro anfitrião do Mundial de futebol. Quatro anos depois, a competição chegava à Europa, com a organização da Itália. Melindrados pelo boicote europeu na primeira edição (apenas quatro seleções do Velho Continente viajaram até Montevideo), o campeão mundial em título, o Uruguai respondeu na mesma moeda e ficou de fora do Mundial de 1934.
A Itália recebia o Mundial como uma oportunidade de Mussolini mostrar a força do seu regime fascista. Nesse mundial, que contou apenas com Brasil e Argentina, por desistência de Peru e Chile, da América do Sul, Estados Unidos, da América do Sul, e o Egito, a primeira equipa africana a participar num mundial, as restantes participantes eram europeias.
A partir dos quartos de final apenas seleções europeias continuavam em prova. A final, entre Itália e Checoslováquia, foi a prolongamento. 2-1 foi o resultado que permitiu a equipa de Vittorio Pozzo sagrar-se campeã do mundo, ainda que houvesse muitas dúvidas do real valor desta equipa italiana, fruto de arbitragens polémicas. Itália que viria a reconquistar o título mundial quatro anos depois, desta vez com mais clareza a nível futebolístico.
Para construir a equipa, Mussolini foi buscar quatro jogadores não italianos de origem – os “Oriundi”: Raimundo Orsi, Enrique Guaita, Filó, Atílio Demaria e Luís Monti, este último tinha jogado a final do mundial do Uruguai pela Argentina.
Pelo caminho ficou a Áustria, conhecida como a WunderTeam, que chegou às meias-finais, eliminada pela campeã Itália. Esta seleção não iria vencer nada, e ficaria na história como uma equipa recheada de talento e que maravilhou a Europa nos anos 30. Nos Jogos Olímpicos de 1936 foi vice-campeã, e em 1938 desapareceria do mapa, fruto da invasão e anexação por parte da Alemanha.
Além da Taça Jules Rimet (foi batizado assim o troféu da Taça do Mundial), os jogadores receberam a Coppa del Duce, um troféu muito maior mandado construir pelo líder italiano, que exibia a simbologia fascista e pesava 75 quilos.
