Navio-Museu Santo André celebra 75 anos com exposições, cinema e conversas sobre o 25 de Abril

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O navio aniversariante fez parte da história da frota portuguesa de bacalhau, quando em 1949 se despediu dos que ficaram em terras aveirenses, rumo às campanhas de pesca Atlântica Norte. O arrastão lateral, como é tecnicamente denominado, nasceu em 1948, nos Países Baixos, por encomenda da Pesca de Aveiro. Na época, com linhas modernas e cerca de 71 metros de comprimento, tinha porão para 20 000 quintais de peixe, o que corresponde a 1 200 toneladas.

O navio piscatório, ancorado no Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré, no final dos anos 70 foi sujeito a restrições pesqueiras em águas exteriores, o que, nas décadas seguintes, deu origem ao abate de grande parte da frota. O Santo André, ao contrário do que se pensava, não escapou à tendência e acabou por ser desmantelado em agosto de 1997.

Quatro anos mais tarde, em 2001, por vontade do armador do barco, António do Lago Cerqueira e da Câmara Municipal de Ílhavo, em decisão conjunta, transformaram o navio num museu com o objetivo de honrar a memória de todos os tripulantes que dele fizeram parte durante meio século de atividade.  

Festa no convés

Nos dias 24 e 25 de fevereiro, o Museu Marítimo de Ílhavo vai estar em festa para comemorar os 75 anos da primeira viagem do bacalhoeiro, oferecendo aos que o visitarem um programa variado que remonta ao passado.

O evento que marca o aniversário do navio, que carregava uma importante fonte de subsistência para os portugueses, inclui exposições, cinema e conversas sobre eventos históricos, como o 25 de Abril.

24 de fevereiro – Cinema em mar português

As atividades comemorativas do dia 24 de fevereiro têm início às 16h com a inauguração da exposição “Ideologias do Mar: confrontos e narrativas”. Fruto de uma colaboração com o projeto FILMar, esta exposição promete fazer mergulhar os visitantes em diferentes contextos relacionados às conjunturas náuticas durante o período do Estado Novo, através de discursas práticas e estéticas representativas.

A noite de sábado reserva uma sessão do Ciclo de Cinema “Ideologias do Mar”, que vai complementar o conteúdo da exposição. Na estreia do ciclo, o Museu Marítimo de Ílhavo exibirá os filmes “A Almadraba Atuneira” de António Campos (1961) e “Areia, Lodo e Mar” de Amílcar Lyra (1977), numa colaboração com a Cinemateca Portuguesa.

25 de fevereiro – Trabalho e Liberdade

As festividades têm continuidade domingo, dia 25. Às 15h, os participantes vão ter a oportunidade de embargar numa visita à Casa das Máquinas, conduzida por Marcos Bola Filipe, ex-tripulante do Santo André. O momento promete uma imersão na história do bacalhoeiro e das pessoas que nele navegaram, recuando às árduas formas de vida e trabalho nas águas geladas do Atlântico.

A tarde culminará com a inauguração da exposição “Mar revolto: memórias de 1974”, uma mostra que marca os 50 anos do 25 de Abril, pelas 16h30. A exibição vai servir de ponto de partida para a “Conversa de Mar – A greve dos bacalhoeiros de 1974”, marca um período da narrativa portuguesa, que vai ter a participação de Armando Silva Tavares, antigo moço e aprendiz escalador e Carlos Marques Fernandes, radiotelegrafista.

O septuagésimo quinto aniversário do Navio Santo André A-2571-AL promete destacar a importância da história marítima e cultural de Portugal.

Texto: Beatriz Quaresma

Foto: Município de Ílhavo