Albergue cheio para escutar ‘O Segredo de Compostela’

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Alberto S. Santos estava numa esplanada em Ávila quando “um velho sábio” lhe atirou: “Sabia que não é o apóstolo Tiago que está sepultado em Compostela? Quem lá está chegou a ser bispo de Ávila”. Foi o ponto de partida para a primeira tertúlia do Albergue Rainha Dona Teresa, após reabertura.

A “estranheza” ficou atrás da orelha do autor – também advogado e autarca em Penafiel – e cresceu para se transformar n‘O Segredo de Compostela’, romance histórico que desafia a lenda de Santiago, martirizado no ano 44, e desenrola pela vida de Prisciliano, líder carismático do século IV que alguns acreditam ser quem está na Catedral de Compostela.

“Mas não se preocupem, se for realmente Prisciliano quem lá estiver em nada estraga o significado do Caminho. Foi um homem brilhante e extraordinário”, assegurou o autor, exemplificando com algumas das crenças “que o meteram em problemas” como a ideia de que homens e mulheres eram iguais – bem como os homens “pobres, ricos e escravos” – e a oposição à hierarquia da Igreja e do culto exclusivamente exercido no templo.

O autor desenhou alguns paralelos entre a vida de Prisciliano e Santiago e deixou cada um decidir por si a resposta para o ‘Segredo’: ambos foram grandes pregadores, os dois foram decapitados e os corpos transportados para a Galiza por amigos – o de Santiago segundo consta a lenda e o de Prisciliano “segundo fontes históricas da época”.

O escritor fez notar que “o túmulo foi determinado por decreto” como pertencente a Santiago, quase oito séculos após a sua morte, pelo ano de 820, coincidindo com a necessidade de motivar os soldados cristãos na contínua Reconquista de terras a Sul. Por outro lado, a história de Prisciliano “foi passando de boca em boca, ele foi um santo para o povo, mas um herege para a Igreja”.

Alberto Santos, para deixar mistério no ar com aroma ao típico chá que acompanha as tertúlias no Albergue, terminou como começa o livro – a lembrar que as escavações de janeiro de 1879 encontraram vestígios arqueológicos do século em que viveu Prisciliano. Delfim Bismarck, vereador da Cultura, elogiou a “fascinante apresentação” e lembrou-a como bom exemplo de como “a história é sempre escrita pelos vencedores”.